terça-feira, 30 de agosto de 2011

Janela da Alma

19 pessoas com diferentes graus de deficiência - da miopia à cegueira total - narram como se vêem,


como vêem os outros


e como percebem o mundo:


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

5º Filme do Ciclo Especial

"Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo” Leonardo Da Vinci, artista.

"Dizemos que os olhos são a Janela da Alma, sugerimos de certa forma que olhos são passivos e que as coisas apenas entram. Mas a alma e a imaginação também saem o que vemos é constantemente modificado por nosso conhecimento, nosso anseio, nossos desejos, nossas emoções, pela cultura e pela teoria cientifica mais recente” Oliver Sacks, neurologista

“A visão limitada do homem o faz ser como é” Saramago, escritor

Hermeto Pascoal, músico instrumentista: não consegue fixar os olhos em um único objeto, suas pupilas se movem ininterruptamente em direções diferentes e segundo o músico, sua vista é mais rica, porque enxerga mais.

JANELA DA ALMA: documentário. Perceber o invisível. Plural e abstrato. Propulsor para diversas compreensões de mundo. O que nossas retinas captam é apenas uma pequena parte daquilo que vemos.

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 30 de agosto, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Feliz Ano Velho


Um Marcelo, que talvez seja eu, debruçou-se numa máquina de escrever para falar de sua aldeia. Inventou Feliz Ano Velho. Tentou resgatar sua memória num jogo honesto onde nem suas fraquezas foram reprimidas. Um Mário,que talvez seja eu, aparece na grande tela do cinema vivendo a angústia de começar de novo e de crescer, crescer, sempre crescer. É um filme diferente do livro. E como filme, foi além do previsível. Ousou, inventou outros personagens,criou novas cenas, novos símbolos. Optou por recontar a história e não simplesmente reproduzi-la. E isso é arte.Obrigado, Roberto, é um grande filme. 
Marcelo Paiva, 1988

BREVE NOTA DO ROTEIRISTA
No início dos anos 1980, com 22 anos, eu estava tomado por dúvidas e medos. Atravessava um momento de transição, de profundas mudanças, para o qual meu passado de adolescente havia me empurrado. Eu já não cabia em meus protegidos anos de infância e adolescência, mas o futuro desconhecido aparecia como uma grande ameaça. Diante disso, meu presente era o medo e a paralisação. Estava atônito diante da crueza e da inevitabilidade do eterno ciclo da vida. Então era assim – as coisas estavam sempre em movimento, as pessoas se encontravam e se separavam, nasciam e morriam. Tomava consciência dessa condição inerente a todo ser humano. Estava só. Só diante da minha vida e da minha morte. E muito embora não estivesse desenhado, meu destino já não se confundia com o de qualquer amigo ou pessoa querida. Definia-se pela negação – eu não era. Passei a conviver com esse vazio, e encarar o branco da tela que esteve sempre encoberto mas que agora se escancarava à minha frente. E a busca do desenho foi aos poucos começando. Nesse processo, me deparei com o livro de Marcelo Paiva do qual ouvi falar por meio de amigos comuns.

No início final de 1982 comprei Feliz Ano Velho que se encontrava na 2ª edição, e ainda não havia se tornado o fenômeno editorial que viria a ser. Devorei-o em um dia e meio e seu efeito foi muito forte. Afora todas as suas qualidades, fiquei emocionado com o depoimento do Marcelo, com seu discurso adolescente mas queapontava para uma transição, uma mudança. Era como uma despedida de um momento do qual não adiantava mais sentir saudades; não voltaria mais. Fiquei impactado sobretudo pela imagem de imobilidade física de um jovem de minha idade. Era como se ela simbolizasse e sintetizasse os conflitos que eu vinha atravessando. Por outro lado, a existência do livro era a prova de que era possível andar, encontrar o desenho sem negar um destino que é imponderável, mas diante do qual não podemos nos colocar como vítimas.

Quer saber o resultado de tudo isso? Checa o filme em:

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 23 de agosto, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Pindorama - A Verdadeira História dos 7 Anões

Em Pindorama, Roberto Berliner volta a desafiar nossos pré-conceitos politicamente corretos em relação a portadores de deficiência. Diante do diferente, tendemos a adotar um discurso de proteção e respeito, quando não de falsa naturalidade. Com as ceguinhas de Campina Grande, Berliner recusou-se a qualquer forma de compaixão disfarçada. Embarcou no lúdico da proposta tanto quanto as próprias personagens - e não escamoteou as conseqüências. Com os anões do Circo Pindorama (veja post anterior sobre a versão média-metragem), ele não chegou a desenvolver uma relação íntima. O filme, na verdade, é uma grande apresentação de personagens, mas com o frescor de uma abordagem isenta e livre. Enquanto conhecemos essa grande família, vamos percebendo a estrutura de poder no empreendimento, o apelo sexual dos "pequenos", o efeito da reputação artística sobre o ego de cada um. A maior parte das piadas dos anões - dentro e fora do picadeiro - é com a sua própria condição física. Eles satirizam a si mesmos e têm um imenso prazer em exibir suas qualidades. Berliner se faz cúmplice deles. Coloca a câmera a serviço da verve deles. O aparato cinematográfico (fotografia, edição, músicas de Lula Queiroga) é usado para potencializar a fluência e a hiperatividade deles. Pindorama é para gente tão desencanada quanto os sete anões. Fellini no sertão, equilíbrio e graça sem culpas nem exploração.


SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 16 de agosto, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

domingo, 7 de agosto de 2011

Do Luto à Luta

Para Evaldo Mocarzel, o documentário é uma questão pessoal. Impossível não se envolver. Em Do Luto à Luta, ele parte da sua experiência familiar (ele é pai de Joana Mocarzel, a Clara da novela Páginas da Vida) para enfocar a inserção social e cultural dos portadores da Síndrome de Down. O filme é corajoso e comovente, para muitos o seu melhor. E tem uma qualidade incomum: o viés pessoal não se sobrepõe ao enfoque objetivo do tema, mas o informa e autoriza. Assim, Mocarzel equaciona melhor do que nunca sua participação dentro do filme. Em À Margem da Imagem, essa participação se revestia de um caráter intelectual: ele questionava a apropriação (inclusive por ele mesmo) da imagem dos moradores de rua. Mensageiras da Luz implicava na argumentação do tema o nascimento do próprio filho do diretor e do próprio filme, num esforço poético apenas parcialmente resolvido.

O premiado Do Luto à Luta está na fronteira entre a investigação e o utilitarismo social. O título em si exprime a passagem do sentimento de perda para a postura de afirmação da vida, que nem todos os pais de crianças com Down conseguem fazer. Mocarzel fez. E procurou seus pares para falar sobre isso. É um filme de família, em muitos sentidos. Reunidos diante da câmera, pais e filhos relatam histórias de rejeição, superação e amor incondicional. O drama que às vezes se passa dentro do quadro seria inapreensível por qualquer filme de ficção.

Sempre disposto a um exercício de metalinguagem documental, a certa altura o diretor entrega seus meios de produção a um jovem casal portador de Down para que eles roteirizem, filmem e editem um pequeno filme-dentro-do-filme. Essa iniciativa, além de curiosa e produtiva, sublinha o desejo do cineasta de contestar o poder da autoria e entrar na região bem mais complexa da auto-imagem. Mocarzel não se contenta em fazer documentários. Quer investigar em profundidade esse estranho ofício de revelar o outro.

retirado de criticos.com.br

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 09 de agosto, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O que é Ser Especial pra você?


Muitos dizem que as pessoas são especiais pelo que elas são, pelas atitudes, decisões e sentimentos. Pelo agir naturalmente sem se esconder atrás de nada. O Cineclube Buraco do Getúlio traz no mês de agosto filmes que nos tocam de forma diferente, pela verdade de um mundo que muitas vezes é discriminado por não se saber nada sobre ele. A sessão de sábado desse mês explora o universo de O Resto é Silêncio, de Paulo Halm; Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro e Aloha - Surf Adaptado, de Paula Maia dos Santos.

Além da clássica vibração do DJ Zeh Alsanne, a intervenção teatral dos Cretinos Iluminados e o som irado da Banda Mazé. Mais que especial, não?



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

1º Filme do Ciclo Especial


Crime Delicado, como os demais filmes de Beto Brant, parte de um ato de violência. Mas, se nos longas anteriores a violência era um ato presente, uma afirmação que exigia respostas dos personagens, em Crime Delicado a violência se transforma em interrogação – e o motor do filme não é mais a ação dos personagens, mas suas dúvidas.

O crítico de teatro Antonio Martins é um homem pleno de certezas. Domina com desenvoltura seu métier, sabe utilizar a ironia e o sarcasmo. Mas suas certezas (e sua empáfia) caem por terra depois de um encontro casual com Inês, mulher muito bonita, com uma deficiência física: falta-lhe uma perna. A dúvida se instaura. Martins também se descobre incompleto: falta-lhe aquela mulher. Ele a persegue. Surgem incômodos, no personagem e no público (...)

 O cinema de Brant (apesar de todas as limitações dessa classificação) aproxima-se a uma tendência realista, o que nos leva a pensar no estatuto de verdade das imagens do cinema contemporâneo. Brant usa longos planos-seqüência, buscando um mundo que se manifesta por si. No improviso dos atores nas cenas do bar, Brant busca a espontaneidade, mas também o acaso. De tão raros, os cortes se tornam mais “explícitos”. A montagem, essa grande violência do cinema com as imagens capturadas pela câmera, esse procedimento que Bazin “interditou” em seus textos. A montagem em Crime Delicado, como os faux raccords do início da carreira de Godard, serve para explicitar a “violência” da construção cinematográfica.

Tudo em Crime Delicado gira em torno dessa “violência”: a violência da representação e as dúvidas que surgem daí.  (...) As certezas que se esfacelam frente ao mundo não são apenas as do personagem principal, mas toda uma idéia de fazer cinema. (...)

Crime Delicado é cinema que não se quer “completo”, mas que busca a lacuna que levará o espectador a perseguir suas próprias respostas e encarar suas próprias falhas. É a frase do ator Adriano Stuart que resume a beleza do filme: “Eu errei”. Não há, no cinema brasileiro recente, “erro” mais necessário e esclarecedor que este Crime Delicado.