O Buraco do Getúlio abre maio com os processos de loucura em homenagem à luta antimanicomial. Nesse mês, temos o premiado O homem que virou suco, um filme de muitas vidas. Ganhador da Medalha de Ouro do Festival de Moscou, o longa é essencial para se compreender as questões sócio-políticas, culturais e cinemáticas que resultaram na elaboração de um cinema brasileiro com identidade própria, além de focar na opressão que embala o personagem em momentos de desequilíbrio.
Logo em seguida, nosso clássico bate papo de início do mês. Dessa vez com Valter Filé. Quer saber mais? Facebook nele!
Descobrimento. O grau de inspiração de acordo com as fases
da vida. A sabedoria que mete medo. O conhecimento concentrado da vida. Loki, a
figura que permeia o rock e a identidade brasileira. A abertura, a amplitude, o
rompimento do paradigma de música popular brasileira.
A ressonância do documentário musical através dessa figura
que revolucionou o rock do país através dos Mutantes. A banda fuga do lugar
comum, repleta de uma densidade de fantasia. Mas Arnaldo Baptista vai além
disso. É uma persona que de tão intensa, se afunda e se aprofunda. Loki, o
disco. A confissão, o desabafo, as entrelinhas. A perda da inocência.
São duas horas do retrato de um artista cuja sensibilidade
corta e recorta piração interna e tristeza de não compreender porque não se é
compreendido. Uma sensibilidade que se perde.
“Eu me sinto completamente esburacado por essa experiência.
É como se pessoas estivessem dançando e passando por todos os meus poros”
O enaltecer da cor preta. O brilho em meio às memórias. Sombras, imagens de arquivo, fotografias. Pelo princípio ou pelo fim, a vida do poeta que marcou a música em uma época onde o samba era no pé. Aqui circula não somente a existência do talento do músico, mas o tempo onde a música era uma característica carioca.
O samba como um gingado triste e saudoso, desses que embala quando se sai do bar com a cabeça repleta de cevada.
“Boêmio ele era, né? Ia à feira e voltava três dias depois. Voltava com repolho cozido...assim que era o Cartola.”
A Mangueira, os sambistas, os mestres, a música cantada para arrepiar os poros. Um tempo de compassos malandros, de sintonia entre som e silêncio. O samba que cantava ontem e cantava toda a vida.
Pelo corredor da sala de projeção anda um homem muito mais do que feliz. Ele está pleno, radiante. Os olhos brilham e iluminam o escuro. O peito, estufado em uma de suas peculiares e inseparáveis camiseta preta, bate de emoção, perfeitamente confirmada por largos sorrisos logo ao término da sessão. Branco Mello parece um menino ainda maravilhado com a sua própria façanha e incapaz de parar de lamber a própria cria.
Branco é um dos cinco remanescentes daquela que foi a maior (em tamanho, afinal começaram em número de oito) formação da geração que ajudou a popularizar o rock em verde e amarelo e sedimentá-lo como um grande nicho mercadológico no país.
No ano em que os Titãs celebra seus 25 anos de carreira e promete um novo disco de inéditas (algo que não ocorre desde 2003) e espera um novo recomeço de carreira (profundamente abalada na última década por causa de seguidas mudanças de gravadoras, a morte trágica do guitarrista Marcelo Frommer e a saída turbulenta e abrupta do baixista/compositor/vocalista Nando Reis), ele dá aos fãs um dos maiores presentes da longa história da banda.
Decalcando o título da biografia literária do grupo (que, por sua vez, fora extraído de um dos versos do hit “Diversão”), o documentário Titãs – A Vida Até Parece Uma Festa chega aos cinemas contando em uma hora e meia toda a carreira através de imagens – muitas delas perdidas para sempre no submundo da história da televisão popular brasileira; algumas outras até então guardadas sob sete chaves em acervos pessoais dos músicos e seus familiares. Curioso, inusitado, divertido, espontâneo, singelo, particular, íntimo, emocionante, bem-humorado e auto-reflexivo: estes são apenas dez dos adjetivos de uma extensa lista que você pode usar para lembrar do que acabara de vez assim que se levantar da cadeira do cinema.
Com a co-direção da Oscar Rodrigues Alves – cineasta que, segundo Branco, foi convocado para dar uma “ótica externa à banda” e “imprimir um lado menos emotivo ao documentário” – o titã filtrou cerca de trezentas horas de imagens brutas. Entre o material não captado e guardado por ele, estavam participações em antigos programas de TV, resgatadas através de pesquisas feitas nos arquivos das emissoras. A dupla ainda lançou mão de precárias gravações em VHS, registradas por amigos e parentes – já que muitas das cenas mais engraçadas, inexplicavelmente, já haviam sido apagadas para sempre pelos próprios canais. A saber de três delas, todas no iniciozinho da carreira: Marília Gabriela apresentando os músicos ao conservadoríssimo ex-presidente Jânio Quadros; Hebe Camargo, do seu sofá, perguntando “isso é punk?” antes de rolar o playback de “Sonífera Ilha”; e alguns músicos participando do quadro Sonho Maluco, apresentado por Gugu Liberato, no qual tinham de salvar uma fã presa por uma “aranha gigante e malvada” em uma grande teia pendurada no alto de um galpão.
Na mitologia grega, os Titãs estão entre os deuses que enfrentaram Zeus e os deuses do Olimpo na sua ascensão ao poder. Curiosamente, o ensaio Sobre a música, atribuído a Plutarco menciona um poema épico intitulado Titanomaquia (“Guerra dos Titãs). Os Titãs não formam um conjunto homogêneo. Os mitos gregos da Titanomaquia são uma geração ou grupo de deuses que confrontam os dominantes. Por vezes os deuses maiores são derrotados. Outras os rebeldes perdem, e são afastados totalmente do poder ou ainda incorporados no panteão.
Titãs – a vida até parece uma festa mostra a rebeldia da banda de rock brasileira, ativa há mais de 25 anos que tornou-se uma das quatro maiores bandas do BRock. Até os deuses dizem Assim seja.
CURIOSIDADE: Os Titãs são uma das bandas nacionais que mais foram regravadas. Abaixo algumas regravações feitas por outros artistas:
O Buraco do Getúlio pega a onda sonora brasileira em abril e dança ao ritmo da qualidade dos documentários musicais que mais refletem nossa diversidade cultural. Para dar início a vida musical no BG, Uma Noite em 67 abre o ciclo com seus aplausos, vaias, violão quebrado e guitarras estridentes. A final do Festival da Record que mudou os rumos da MPB.
Perguntas para HB, músico, cineasta e um dos porta-vozes do http://matecomangu.wordpress.com, que participará do bate-papo do ciclo "Documentários Musicais".
QUEM É HERALDO BEZERRA?
Heraldo HB é animador cultural com atuação na Baixada Fluminense, território onde já atuou com rádio livre, pré-vestibular comunitário e em projetos de Internet e Comunicação popular. Há oito anos atua com Cineclubismo e Audiovisual através do Cineclube Mate Com Angu. Um cara persistente. :)
QUAL A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA SUA FORMA DE FAZER CINEMA? O modo de pensar as coisas que faço acaba sempre sendo influenciado por uma percepção rítmica, um dos elementos mais primários. E acho que toda a produção no campo da cultura acaba sendo uma composição melódica, com graus variados de complexidade e paixão. Às vezes é bom pensar a criação como numa melodia à Catulo da Paixão Cearense e às vezes é bom criar na base do Sepultura. E tem momentos que as coisas só funcionam deixando a mente ligada no modo Hermeto Pascoal.
O QUE HB INDICA:
3 músicas que todo mundo deve ouvir:
Putz, difícil dizer assim na lata...do Pixinguinha. Alguma do Led Zeppelin, Kashmir, por exemplo. E alguma do Luiz Gonzaga, não sei qual escolher :)
3 docs imperdíveis:
Mais difícil ainda... Mas, sem dúvida: Cabra Marcado pra Morrer, do Eduardo Coutinho, esse é espancador. Também me veio à mente o Janela da Alma, do Walter Carvalho e João Jardim e um doc canadense chamado The Corporation, de Mark Achbar e Jennifer Abbott.