quinta-feira, 29 de março de 2012

Cowboy


“No dia 23 de agosto de 2009, ocasião do seu 85º aniversário, um velho cowboy do velho interior de Minas Gerais, reuniu um grupo de amigos para comemorar o último dia de sua vida!”

A simplicidade de Minas que tem gosto de vitamina e sol fresco é a figura de um senhor de óculos, careca. COWBOY tem cara de quem acorda de manhã e deixa marca na cama como se experiência de vida fosse coisa que se acumula bem devagarzinho.

“Quem pode confirmar que já morreu todo mundo é esse espelho aí”.

O documentário acompanha a vida de Tonico do Lico, um homem que comandou rodeios, bailes e que não hesitava quando o assunto era briga. É um registro silencioso de sua intensidade. Com uma bela fotografia e uma câmera fixa e estável, o filme nos dá um espelho de como o cowboy envelheceu. Em sua reclusão e passo lento as poucas palavras são ouro.

A lentidão que a câmera acompanha faz contraponto à agilidade que Tonico exercia nos torneios (em imagens de arquivo) e que hoje parece apenas como registro do tempo que não está mais aqui. O tempo de hoje do velho COWBOY é um tempo simples, captado por uma câmera que transmite poesia em uma época onde os dias passam mais lentos porque não se tem mais tanta pressa assim. Tonico é e sempre será o COWBOY, mas há algo nele que angustia muitos de nós: o que há por trás do ato de envelhecer? O que se esconde de singelo e real atrás de nossos gestos simbólicos? O documentário é uma busca pela memória e a intimidade que construímos. O resto é poesia.

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SERVIÇO
    Cineclube Buraco do Getúlio
    Dia 03 de abril, terça, às 20h
    Casa de Cultura de Nova Iguaçu
    Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
    Próximo à Estação de Trem de Nova Iguaçu

sábado, 24 de março de 2012

Casa de Areia

CURIOSIDADES 

- Foi a primeira vez que Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, mãe e filha na vida real, contracenaram juntas em um filme.

- O filme foi rodado inteiramente nos Lençóis Maranhenses, entre julho e setembro de 2004. 

- O Ibama apenas autorizou as filmagens nas zonas de amortecimento do parque; as reservas de proteção máxima não foram liberadas. 

- A idéia original de “Casa de Areia” partiu de Luiz Carlos Barreto, que em uma viagem ao Ceará viu na parede de um bar uma fotografia de uma casa abandonada, enterrada nas dunas de um imenso areal. A partir desta imagem, Barretão chamou Andrucha Waddington (“Gêmeas” e “Eu Tu Eles”) para trabalhar em um argumento para o longa. O diretor não só topou como chamou a roteirista Elena Soárez para trabalhar com eles. Juntos, os três desenvolveram o argumento, cabendo em seguida a cada um assumir sua função: Barreto na produção, Waddington na direção e Soárez no roteiro.




quinta-feira, 22 de março de 2012

4º Filme do Ciclo Fernanda Montenegro

Ao longo do novo filme de Andrucha Waddington, vez ou outra vem a impressão de se estar na sala de cinema para ver e ouvir o vento. Por mais que as imagens transmitam uma grande segurança em relação ao que está sendo construído no filme, é possível enxergar um desejo mudo em Casa de Areia: ter uma narrativa de fundo sustentando um belíssimo documentário sobre o vento que sopra nos lençóis maranhenses.

Há um vigoroso estudo de paisagem e de ritmo que pouco a pouco se comprova inseparável da trama calcada no tempo e no corpo. O fato é que Casa de Areia, já nos seus primeiros minutos, oferece menos uma estrutura psiconarrativa imediatamente mapeável do que uma experiência que se funda na desordem empírica dos acontecimentos, com a sensibilidade espacial e a narratividade dos olhares adquirindo uma potência sobrecomum.

Assim como em Wong Kar-wai (Ashes of Time, Amor à Flor da Pele), aqui uma temática do tempo e da passagem constitui o arcabouço de um cinema das elipses. Toda passagem se deixará então produzir sob a forma da dissimulação, da prestidigitação. A montagem em cortes secos apenas exacerba no filme a indeterminabilidade – ao menos num primeiro momento – do tempo transcorrido entre um plano e outro, essa cronologia fugidia estando na base de sua composição elíptica.

Mas em Casa de Areia não se experimenta a vertigem de alguns filmes de Wong (Days of Being Wild, Felizes Juntos), pois tanto a noção de movimento está no caminhar vagaroso que as areias das dunas impõem quanto o projeto estético de Waddington – muito antes de incorporar a sensação de queda em abismo – pede uma firme atrelagem ao solo, seja pela busca de uma qualidade da mise en scène (busca que transcorre em sentido positivo, sem render, por exemplo, o incômodo “peso da imagem” de Lavoura Arcaica, ou a sofisticação às raias da esterilidade de Abril Despedaçado), seja pela confirmação de uma poesia de geólogo, que examina a terra para extrair-lhe uma beleza que é mais textural do que “essencial”.

De Eu, Tu, Eles a Casa de Areia, esse telurismo passou por radicais mudanças cromáticas e físicas. Ao sertão de cores quentes, onde a terra é o que nunca sai do lugar, se segue uma paisagem colorida-em-branco-e-preto e em eterna mobilidade. Se há como falar de uma espacialização do tempo em Tarkovski, em Casa de Areia o processo parece se inverter e resultar na temporalização do espaço, uma vez que este deixa de ser aquilo que permanece e se torna parte do elemento movente, eixo indistinto de um espaço-tempo que escorre nessa locação que nada é senão um imenso relógio de areia. Por isso um ponto do “sistema” pode estar a “um dia e meio” de outro – a medida da distância é o tempo.

No seu mergulho ao “Brasil profundo”, Waddington já havia mostrado não apenas a preferência por configurar um lugar isolado, mas também a proposição de uma nova matemática do mundo e dos homens (em Eu, Tu, Eles, um teorema afetivo insolúvel; em Casa de Areia, a geometria de um espaço curvo).

E é já em Gêmeas, seu primeiro longa-metragem, que se instaura uma obsessão da semelhança que os filmes posteriores re-trabalham: rostos parecidos ou mesmo repetidos, histórias que se reciclam ao capricho do destino, sucessão espacial desdiferenciada.

Em Casa de Areia, no solo movediço em que todo traço e todo vestígio são apagados, a semelhança é a forma que mais se aproxima da permanência. O que não é possível é justamente a “escritura”, a tentativa de demarcar limites no território ou livrar alguma coisa do esquecimento através da sua conversão em signos legíveis. O halo solar, na cena após o eclipse, só fica registrado na chapa sensível porque constitui uma marca de natureza indicial, responde diretamente à experiência presente. 

Já no segundo plano do filme, após a lenta tomada aérea que transforma o espaço em pura superfície (quase uma gravura), Waddington inscreve a magnificência dos quadros numa estética do pleno preenchimento em que o elemento fora-de-campo não estará necessariamente em contigüidade com o enquadrado, mas antes será o que provisoriamente não pertence ao filme. Os movimentos (de câmera, de personagens) se desenvolvem lateralmente, e as imagens se formam menos numa relação de fundo-superfície do que num crescimento para os lados – discreto parentesco estético com Gerry que parece explicitado no início do filme, com a câmera praticamente repetindo um enquadramento de Gus Van Sant ao acompanhar de perto os rostos de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro lado a lado enquanto caminham. Todo distúrbio que houver nesse ambiente será, de alguma maneira, uma ruptura dessa topografia, uma recusa a essa premissa de “movimentos de orla”. 

Na inextensão desse espaço em que a História é um eco distante, uma matéria de cinema fantástico entra quase que por osmose, e um eclipse ou uma lua mélièsiana desdobram em fábula toda a performance meteorológica que o filme traz. Princípio mantido até o fim: sob um céu de ficção científica, mãe e filha se reencontram após anos e anos de uma separação que apenas concretizara a distância entre seus mundos interiores opostos. A composição visual da cena que encerra Casa de Areia não esconde sua tarefa de ser também um equilíbrio dos contrastes (de enquadramento, de tom) – e uma conciliação com as cores. Antes desse equilíbrio, contudo, foi dando boas-vindas às intempéries que Waddington evitou uma lógica de aquariofilia (que não permitiria a entrada de qualquer coisa que escapasse a uma certa escolha visual/temática) e encontrou uma força na entropia do espaço que só tem a somar para sua proposta estética.

Casa de Areia é ao mesmo tempo um projeto distante e complementar a Eu, Tu, Eles. O mesmo feelgood no desfecho, a mesma candura disfarçada na crueza, o mesmo prazer em fazer retornar o “semelhante”. O distanciamento está em não se limitar à repetição, não aderir à tautologia autoral, e sim querer expandir seu horizonte de cinema.

(retirado daqui)



SERVIÇO
    Cineclube Buraco do Getúlio
    Dia 27 de março, terça, às 20h
    Casa de Cultura de Nova Iguaçu
    Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
    Próximo à Estação de Trem de Nova Iguaçu  

quinta-feira, 15 de março de 2012

3º Filme do Ciclo Fernanda Montenegro

O maior mérito obtido por Marcos Bernstein em seu filme de estréia como diretor foi a seleção de seu elenco. São poucos diretores consagrados que conseguem reunir em um só filme atores do gabarito de Fernanda Montenegro, Raul Cortez e Laura Cardoso, esta última fazendo somente uma pequena participação.

Para se ter uma idéia, Fernanda e Raul, dois dos veteranos atores brasileiros mais consagrados, nunca haviam contracenado juntos no cinema. Com este elenco de “enciclopédias da 7ª arte”, Bernstein (co-roteirista de “Central do Brasil”, de Walter Salles) pôde realizar toda premissa de “O Outro Lado da Rua”, uma espécie de “As Confissões de Schmidt à brasileira”.

O longa basicamente é sobre a velhice, mostrando-a de um ponto de vista muito mais cruel do que o costume, em que a solidão é o que resta à maioria das pessoas de idade mais avançada. Passado em Copacabana, tido como o bairro mais idoso do Rio de Janeiro, se não do Brasil, o filme conta a história de Regina (Montenegro), uma senhora que luta contra o esquecimento e a velhice ao lado de sua cadela vira-lata.

Regina faz parte de um grupo de aposentados que se dedica a passar informações para a polícia sobre pequenos bandidos da redondeza. Certa noite, observando através de um binóculo o prédio em frente ao seu, ela testemunha um homem aplicando uma injeção em sua esposa, que morre em seguida. Certa de que acabou de presenciar um assassinato, ela chama a polícia. No dia seguinte, Regina descobre que o sujeito foi inocentado e que se trata de um ex-juiz chamado Camargo (Cortez). Determinada a provar para a polícia que estava certa, ela passa a seguir Camargo, que por sua vez pensa que seus encontros com a senhora eram meras coincidência e passa a “investir” nela. Com o tempo os dois acabam se envolvendo, o que leva Regina a uma série de questionamentos.

“O Outro Lado da Rua” conquistou vários prêmios, onde se destacam: o de Melhor Filme da Sessão Panorama, na mostra paralela do Festival de Berlim; o de Melhor Atriz, para Fernanda, no Festival de Tribeca; o de Melhor Filme - Público, no 16º Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse; e os de Melhor Filme, Melhor Atriz e Melhor Fotografia, no Cine PE - Festival do Audiovisual.

Apesar das excelentes participações de Raul Cortez, que esbanja charme, e Laura Cardoso, que transborda simpatia, quem encanta mesmo no filme é Fernanda Montenegro (também, quando ela não o faz?). Dama maior do cinema nacional, Fernanda nos presenteia com uma personagem que é ao mesmo tempo ranzinza e engraçada, algo que só ela consegue fazer.

(retirado daqui)


Cineclube Buraco do Getúlio
    Dia 20 de março, terça, às 20h
    Casa de Cultura de Nova Iguaçu
    Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
    Próximo à Estação de Trem de Nova Iguaçu  

terça-feira, 13 de março de 2012

sábado, 10 de março de 2012

Eles não usam black-tie

Algo além da simples ideia de transpor um grande sucesso teatral para a tela de cinema havia levado o cineasta carioca Leon Hirszman (1937-1987) à peça escrita em 1955 por Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). 

Eles não usam black-tie permanecera mais de um ano em cartaz em São Paulo, literalmente salvando da falência o Teatro de Arena, em 1958. O espetáculo dirigido por José Renato, idealizador e fundador do Arena, tornara-se também um marco estilístico do teatro brasileiro, graças,sobretudo, à contundência inovadora de seus protagonistas, operários em tensão com a iminência de greve geral. Vinte anos mais tarde, quando Hirszman decide filmar Black-tie, o ABC paulista via-se sacudido por um histórico movimento de organização sindical que resultaria nas fundações do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O ano era 1979 e a ditadura começava oficialmente a declinar. Ernesto Geisel encerrava seu governo de abertura dando lugar ao último general presidente – aquele cujo feito mais lembrado seria seu próprio pedido para que o esquecessem. No amanhecer de uma década já mais permissiva, porém ainda conturbada, o texto de Guarnieri servia muito bem ao gesto tipicamente neorrealista de estender pontes de melodrama sobre reais trincheiras sociais. O neorrealismo italiano havia sido uma das principais fontes do Cinema Novo, ainda que Hirszman pessoalmente tivesse em Sergei Eisenstein – e não em Roberto Rosselini – sua maior referência. Tal qual esse último antes de Roma cidade aberta (1945), o cineasta brasileiro também realizara documentários, e é precisamente a partir de um deles (O ABC da greve, concluído somente após sua morte) que o diretor decide adaptar a ficção de Guarnieri.

Por outro lado, a matriz documental e neorrealista do cinema em Black-tie convive com alguns resquícios teatrais, especialmente por meio do desempenho de alguns figurantes e de certas linhas de texto. Há até um potencial sedutor quasenaïf nesses aspectos, que talvez assim escapem de parecer sintomas de um set cinematográfico malpreparado, subdesenvolvido aos olhos do cinema de mercado. É, portanto, outro gesto teatral que aparece bem-(re)processado no filme: a voz dos personagens que se manifestam fora de quadro, direto da coxia, dialogando com quem está em cena ou simplesmente ecoando-lhes as notícias. No mesmo sentido, vale observar que os patrões industriais nunca aparecerão na tela, fazendo-se presentes somente através do espião e da polícia, apontados como instrumentos de vigilância de um totalitarismo orwelliano.

A sofisticação do cinema de Leon Hirszman é evidente quando o diretor não resiste a citar, em dois momentos, à sua maneira, A saída dos operários da Fábrica Lumière (1895). Ainda assim, a força de Eles não usam black-tie surge de uma simples e bem-construída combinação entre realismo social e um conflito universal de gerações entre pai e filho. O filme de Hirszman se nutre não somente da beleza do texto original, mas também de opções tradicionais muito bem-conduzidas, como a do próprio Guarnieri que troca o papel de Tião (na peça) pelo de seu pai operário, formando, ao lado de Fernanda Montenegro, uma das mais tocantes duplas de personagens da história do cinema brasileiro.

(retirado daqui)

SERVIÇO
    Cineclube Buraco do Getúlio
    Dia 13 de março, terça, às 20h
    Casa de Cultura de Nova Iguaçu
    Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
    Próximo à Estação de Trem de Nova Iguaçu 

quarta-feira, 7 de março de 2012

Extra! Extra! Sessão de Sexta!

Rola próxima Sexta Sessão Extra no BG! Em parceria com o Clube de Cinema Fora do Eixo/Compacto.cine, a gente vai ter lançamento integrado do filme BOLLYWOOD DREAMS pra mostrar que o cinema brasileiro tá recheado de aptidões femininas. Checa só as palavras da diretora Beatriz Seigner, estudiosa da cultura indiana há anos.

Nicotina, Cafeína e Cinema - O que a motivou a fazer um filme passado em Bollywood?
Beatriz Seigner - Desde a primeira vez que fui para a Índia, aos 18 anos, já com uma câmera na mão, tinha a vontade de fazer um filme que unisse nosso País aos deles. No entanto, não encontrava um recorte ideal para me acercar das questões que me intrigavam naquele país, com aquela cultura milenar. Ao voltar para o Brasil e ouvir amigos atores perguntando sobre Bollywood, percebi que este poderia ser o recorte, o olhar, que eu estava buscando.


NCC - Você conhece ou já ouviu histórias de pessoas que buscaram o mesmo sonho que as três principais personagens do filme: ir para Bollywood atrás de uma carreira promissora?
BS - Muitas pessoas do leste Europeu trabalham bastante com isso lá. De brasileiras, sei de cinco modelos que no momento estão participando de alguns filmes. Todas elas foram para lá depois que fizemos nosso filme. Estes dias, no debate que fizemos com a Folha (de São Paulo), outras pessoas disseram que foram para a Índia trabalhar com outras coisas, mas acabavam fazendo essas pontas em filmes para ganhar um dinheirinho extra e poder viajar mais pela Ásia. De modo geral, é muito comum os agentes de Bollywood escalarem viajantes na rua para participarem de filmes. O bairro de Cobala, em Mumbai, é bastante conhecido por isso.


NCC - Tratando-se de uma co-produção, como se deu a junção cultural entre Brasil e Índia nesse aspecto produtivo?
BS - Os indianos ficaram com 30% da RLP do filme (Renda Líquida do Produtor), em troca de nos oferecerem infraestrutura e logística, ou seja, hospedagem, transporte, parte da equipe, parte dos equipamentos e acesso às facilidades dos estúdios. Durante toda a pré-produção, pesquisa de locacão, casting, nos demos muito bem. Na hora de filmar, no entanto, já com as atrizes brasileiras lá, percebi que nossas propostas estéticas eram muito diferentes. Eu queria improvisar e fazer jazz com as atrizes, e eles queriam que eu reproduzisse o modelo enlatado da indústria cinematográfica de lá. Daí, liguei para o produtor com o qual tinha o contrato que me dava total liberdade artística e corte final do filme, e ele trocou a equipe por outra bem menor, mas também mais ágil, disposta a filmar nas ruas, mais afinada com o frescor que queríamos no filme. Aí formamos uma família e foi uma delícia, apesar de termos que passar por muito mais escassez de produção.


NCC - Você acha que esse processo de co-produção entre países é uma forma de alavancar produções e viabilizá-las de maneira global?
BS - Antes de tudo, vale observar que o ser humano contemporâneo é um ser deslocado, em migrações, êxodos, com influências globais, e é natural que o cinema acompanhe essas questões de uma "humanidade planetária", de condicionamentos culturais diversos. Em termos financeiros, acho que sim, que é sempre válido expandir nossos horizontes para mercados internacionais, e fazer co-produções. É uma forma de entrar também em outros mercados. A Ásia, neste momento, está fervendo em diversos aspectos, tanto criativos, quanto econômicos. O BRICS (Brasil, Russia, India, China e África do Sul) está mudando o cenário econômico global. Então, por que não nos unir também culturalmente?



NCC - O crítico Luiz Carlos Merten disse que você pode ter realizado o melhor filme do Ocidente sobre a Índia. Como se deu a construção do enredo? Para você, estereótipos são inevitáveis, no momento em que se tem uma visão de fora sobre aquela cultura?
BS - Acho que esse filme (Bollywood Dream) é sobre três personagens tentando se livrar dos condicionamentos culturais brasileiros, que carregam consigo onde quer que vão, mesmo num lugar tão diferente quanto a Índia. É um filme muito mais de perguntas do que de respostas. Ao mesmo tempo que trago o meu olhar, de quem estuda por mais de oito anos a cultura indiana, já morou mais de seis meses lá e já retornou outras quatro vezes, ou seja, um olhar muito próximo ao dos indianos, tento mostrar de maneira não exótica o olhar das atrizes, que estavam passando por aquele País pela primeira vez. Acho que em muitos aspectos meu olhar é mais indiano do que brasileiro.


NCC – Você acha, então, que a arte deve ser subsidiada pelo Estado?
BS - Acredito que a arte deve ser subsidiada pelo Estado, sim, mas que esse subsidio volteao público com ingressos gratuitos. Ou seja, usou R$ 1 milhão de recursos públicos, então R$ 1 milhão em ingressos, de todas as sessões, devem ser distribuídas gratuitamente. Quem vai em médico público não é atendido de graça? Por que cinema público a pessoa tem que pagar a entrada? E por que, em muitos casos, o público tem que pagar R$ 300, R$ 400 reais num show financiado pelo governo? Acredito que todo este dinheiro deveria ir para um fundo, do cinema, do teatro, da música, das artes plásticas, e que fosse todo destinado a editais públicos feitos com júris rotativos de cada área, como na Argentina em que cada cineasta é júri dos editais uma vez a cada quatro anos. Assim, os grupos beneficiados seriam rotativos, a verba seria democratizada e acabaria com o nepotismo esclarecido de apenas sobrinhos-netos de empresários terem acesso a esses recursos, ficando com 10% destes, pois essa é a praxe de mercado: nenhum artista recebe isso, mas os captadores, sim. Acredito também ser urgentíssimo unirmos a arte à educação primária e secundária, exigindo do Ministério da Educação um currículo escolar que contemple a formação de música, teatro, dança, artes plásticas, fotografia, cinema, história da arte, história da arquitetura, nas escolas, e assim termos indivíduos muito mais equilibrados emocionalmente e uma sociedade muito mais saudável. Só assim poderemos falar de consumidores de cultura, livres, de fato.

Retirado de daqui.

segunda-feira, 5 de março de 2012

1ª Sessão do Ciclo Fernanda Montenegro

Então Março chegou! Alguns dizem que ele tem cara de mês de ressaca, outros que é só agora que a vida realmente começa. Uma coisa é certa: 20% do ano já se foi e como aqui no BG a gente vive o tempo fílmico, nada mais justo do que homenagear no mês da mulher, uma mulher de talento! FERNANDA MONTENEGRO, a grande dama do teatro brasileiro (termo que acha "uma merda") e a maior atriz do Brasil nos concederá a versatilidade de sua atuação nesse ciclo das águas de Março! Pra começar quente as sessões de terça, vai rolar TUDO BEM, de Arnaldo Jabor e o olhar típico de um cinema pós anos 60 que transporta todo um país para dentro de um apartamento que está em reformas.



TUDO BEM pra VOCÊ?