terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Fim de Ano Estranho


Reúna um bocado de pessoas estranhas. Uma música de jardim e uma energia que vem pulsando que nem sintonia de improviso. Aquela coisa que começa no pé e que no fim das contas você repete e canta porque tem gosto de quero mais. Assim é e assim será o último Buraco do Ano: desconectado e carinhosamente recheado de Gente Estranha no Jardim porque "hoje o samba não tem cor, hoje ele não tem raiz" e isso sempre faz a gente um pouco mais feliz. 

É fim de ano, junte-se a nós. Seja um estranho! =D

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Edição Extra de Terça!

O Buraco tinha fechado as portas esse ano, mas deu seu jeitinho brasileiro de voltar à ativa. Quando a coisa é boa, a gente sempre quer repetir, né? Na vibe de "repete, please" o BG traz uma edição extra com o Núcleo Móvel do Festival Estética Central

A galera do Estética vai realizar durante o dia uma oficina de produção de vídeo na Casa de Cultura e à noite o Buraco exibe o material produzido.

E em ritmo de "só mais um pouquinho", rola logo depois da exibição show acústico com Iuri Andrade, do Andrade e a Torre para que o extra fique com gosto de "quero mais". Chegaí!



SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 13 de dezembro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

sábado, 3 de dezembro de 2011

Último Buraco de 2011

Aqui a despedida ao ano tá em ritmo de festa! E pra comemorar intervenção dos poetas do Desmaio Públiko, set list de Zeh Alsanne, Cretinos Iluminados, som irado de Blake Rimbaud + curtas, curtas e curtas! 

Pra fechar o pacote recheado de 2011, teremos Prazer, meu nome é Nova Iguaçu, de Yasmin Thainá, A Primeira Máquina do Tempo do Mundo, de Josy Antunes, Juntos Eles Vão Fazer Muito Mais, de Milena Manfredini, De Alguns Poetas da Terra das Laranjas, de Tigu Guimarães e CSI Nova Iguaçu, de Ian SBFSimbora que vem 2012!



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

6º Filme do Ciclo Terror Trash

Mulheres nuas. Tom macabro. Bruxas, videntes, macumbeiras. Dor. Sangue. Tortura. Mutilações com ganchos e facas. Agulhadas. Mãos esmagadas. Choque em mamilos. Ratos e baratas. Um clássico B. E como todo clássico, imperdível. Fechando o Ciclo Terror Trash, em parceria com o Cineclube Wilson Grey, o BG orgulhosamente apresenta:




sexta-feira, 25 de novembro de 2011

A Encarnação do Demônio

Para deleite dos fãs, Encarnação do Demônio (2008) encerra, após quarenta anos, a trilogia iniciada em 1964 com A meia-noite levarei sua alma, que ainda gerou Esta noite encarnarei no teu cadáver em 1967. Apesar da distancia temporal, cineasta José Mojica Marins, criador e interprete do protagonista Zé do Caixão nos três filmes, conseguiu modernizar a narrativa sem perder a mítica do personagem. 

A trama atualiza a história para os dias atuais. Após 30 anos preso, Zé do Caixão (José Mojica Marins) é finalmente libertado. Novamente em contato com as ruas, o sádico coveiro está decidido a cumprir a mesma meta que o levou preso: encontrar a mulher que possa lhe gerar um filho perfeito. Em seu caminho pela cidade de São Paulo, deixa um rastro de horror, enfrentando leis não-naturais e crendices populares.

Mojica utiliza a técnica do flashback para construir uma ponte de ligação com os dois filmes anteriores. Ao mesmo tempo, esse recurso serve para familiarizar o espectador que não conhece sua obra. São noventa minutos de sangue, vísceras e escatologia, influenciados por uma linguagem cinematográfica nostálgica que utiliza a presença de Zé do Caixão para transportar o espectador para um universo de violência extrema. Uma mistura de terror e erotismo aguçados pelos efeitos especiais de André Kapel. Todos esses maneirismos visuais não são gratuitos. Cada seqüência de violência acerbada é justificada objetivamente através de uma coerência narrativa com a psicologia e obsessão do protagonista. Fica claro que os meios justificam o fim. 

Mojica abusa dos tons escuros e carregados, mesmo nas cores vivas como o vermelho. A fotografia de José Roberto Eliezer aliado a direção de arte de Cássio Amarante possuem requintes gregorianos que nos remete ao cinema dos anos 70 do mestre do giallo Dario Argento. Esse painel de matizes sombrias transformam a cidade de São Paulo em uma espécie de terra paralela, em que o real ganha uma camada de fantasia nebulosa oriunda de uma dimensão bestial e funesta. No meio desse cenário lúgubre, mensagens subliminares surgem disfarçadas de forma que a cadencia da trama não perca o seu ritmo avassalador. A edição de Paulo Sacramento pontua esse compasso junto com a ótima trilha sonora composta pela dupla André Abujamra e Marcio Nigro.

Interessante que todo esse apuro técnico acabou sendo obra do destino. A idéia era finalizar a história de Zé do Caixão ainda nos anos 60, mas perseguido pela ditadura, Mojica não conseguiu viabilizar o projeto. Foram décadas tentando arranjar uma verba que pudesse levar o capítulo final da saga da figura dramática mais famosa do terror tupiniquim. A solução começou a surgir, quando Mojica foi descoberto pelas cabeças pensantes lá de fora. Seu personagem ganhou o nome de Coffin Joe e foi imortalizado por milhares de fãs espalhados pelos quatro cantos do mundo. Ele passou a ser convidado para festivais de filmes fantásticos e chamou a atenção dos novos cineastas do terror como Rob Zombie (Casa dos 1000 Corpos) e Eli Roth (O Albergue), entre outros.

Com toda essa fama, Mojica acabou sendo redescoberto no Brasil. Com a aprovação do 1ºmundo, o 3ºmundo passou a vê-lo com outros olhos. Se o Zé do Caixão era um pastiche nas décadas de 80 e 90, no novo milênio passou a ser considerado cult pelos intelectuais e estudantes de cinema brasileiros. Uma pena que essa conclusão tenha partido de fora para dentro. Mas toda essa demora acabou criando a oportunidade de contar com novos recursos tecnológicos e uma verba decente. Nunca Mojica teve um orçamento desse porte. Foram 1,8 milhões de reais onde o diretor pode por em prática toda sua habilidade de artesão cinematográfico.


(retirado do Jovem Nerd)



SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 29 de novembro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Mangue Negro

Fábulas negras: zumbis começam a atacar os moradores de uma pequena comunidade de um manguezal.

Se Stephen King tem o seu Maine natal e H.P. Lovecraft a minúscula Providence, de onde poucas vezes saiu, Rodrigo Aragão teve a manha - meio na inspiração, meio na cara de pau - de fincar no modesto bairro de pescadores Perocão, na ensolarada Guarapari (ES), os alicerces de seu universo mítico. As ruas suburbanas, a pescaria da molecada e os barcos esperando a maré nada têm de tenebroso. A não ser a imaginação do diretor, que por afinidade - e comodidade, vai - cria ao redor de sua casa uma dimensão fantástica, espremida entre o mangue e o mar. A junção do que vive sob o lodo fedorento com o que se oculta abaixo da superfície da baía se desembesta em histórias que só vendo. No Perocão, o sol não alivia o medo, só o ofusca. Seus moradores fictícios perambulam em um espaço sem tempo e progresso material em que o conflito entre o Bem e o Mal só oferece duas escolhas às pessoas ordinárias: rezar ou rezar correndo.



"Nessa vida todo mundo morre, Luís"

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

5º Filme do Ciclo Terror Trash

Fantástica realização de Rodrigo Aragão. Nascido em 1977 na comunidade de pescadores do Perocão, em Guarapari, cresceu no meio de muita imaginação e fantasia – o pai era mágico profissional e dono de cinema. Com esse background, nada menos surpreendente que, ao assistir filmes como O Império Contra-Ataca, de George Lucas, e Uma Noite Alucinante, de Sam Raimi, o menino ficasse entusiasmado por efeitos especiais e terror. O interesse adolescente estava lá, mas só com muito esforço transformou-se em habilidade para fazer efeitos eficientes e roteiros funcionais. Essa habilidade, desenvolvida e posta em prática nos curtas Chupa Cabras (2004), Peixe Podre (2005) e Peixe Podre 2 (2006), pode agora ser conferida em seu primeiro longa: Mangue Negro. 

Nada menos que setecentos litros de sangue (cuja receita inclui até chocolate) foram gastos nas filmagens, inteiramente realizadas no quintal da casa de Rodrigo - onde ele construiu com madeiras velhas os barracos que serviram de cenário e por onde passa o principal astro do filme: o mangue. 

Logo na primeira cena o espectador é apresentado ao bizarro meio em que as ações ocorrem. Uma câmera meio Peter Jackson-meio Sam Raimi aproxima-se depressa de um bote e enquadra o rosto de Agenor dos Santos (Markus Conká), um pescador contador de causos que percorre lentamente o mangue em busca de um pesqueiro, na companhia do colega remador. A tomada tem grande eficácia para incitar a curiosidade, criar a atmosfera de suspense e introduzir as personagens.

Batista (Reginaldo Secundo) enterra as mãos na lama à cata de caranguejos cada vez mais escassos. A brejeira Raquel (Kika de Oliveira) lava roupas na beira do mangue para ajudar a mãe, presa a uma cama e deficiente visual. O tímido Luís (Valderrama dos Santos) ensaia uma declaração de amor. O asqueroso Valdê (Ricardo Araújo), pai de Raquel, recebe a visita do asqueroso atravessador (Antônio Lâmego), que, enquanto espera um lote de caranguejos asquerosos, dá em cima de Raquel, para desespero de Luís.

Mas, quando o mundo enlouquece e seres desvairados e esfaimados despertam do fundo do manguezal, Luís é obrigado a adiar os momentos idílicos e a se preocupar com o essencial: salvar a pele (e a carne) da amada (e a sua também). Em meio à gosma e ao sangue, Luís maneja a machadinha com perícia, tentando repelir o ataque irresistível dos zumbis à cabana. Quando a doce carne de Raquel é dilacerada por dentes infectos, a única chance passa a ser a preta velha Dona Benedita (André Lobo), que aconselha Luís a (em plena madrugada e no mangue infestado de mortos-vivos) pescar um baiacú, cujo fel pode salvar Raquel.

Mesclando crítica ecológica e humor negro, fotografia dark e tomadas eficazes, Mangue Negro é um clássico do horror tupiniquim. A versatilidade do diretor lembra a de outro criador de efeitos especiais: Tom Savini, o responsável pelos efeitos dos filmes de George Romero. Com a diferença que Savini só estreou na direção em 1990, no remake de A noite dos mortos vivos. O Tom Savini brasileiro logo na estréia dirige, cria efeitos especiais e roteiriza. Com a pretensão apenas de divertir, mas despretensão não torna um filme bom. Talento, sim.


retirado daqui


terça-feira, 8 de novembro de 2011

2º Filme do Ciclo Terror Trash

Ivan Cardoso compartilha com boa parte do Cinema Marginal, movimento no qual começou sua carreira cinematográfica, um gosto irresistível pelo popular. Esta vocação é exercitada sem pudores em todos os seus filmes, desde os curtas-metragens em que estreou como diretor na década de 1970, até seus longas-metragens, em que o horror, a nudez e o humor se misturam em farsas deliciosamente filmadas. O popular muitas vezes é grosseiro e o diretor nunca se esquece disto; ao contrário, deleita-se encenando os mais variados absurdos. Toda sorte de criaturas sobrenaturais – múmias, vampiros, lobisomens – à solta no Brasil, mulheres nuas se ensaboando lascivamente diante da câmera, tramas rocambolescas repletas de situações cômicas: este é o mundo de Ivan Cardoso. 

Muito apropriado, então, que As Sete Vampiras, grande sucesso de público lançado em 1986, se inicie com a chegada ao Brasil de uma planta carnívora africana capaz de transmutar em vampiros e que o filme se transforme em uma caçada a um assassino serial – devidamente “vampirizado” -, tendo como pano de fundo uma boate onde, é claro, dançarinas se apresentam com pouca ou nenhuma roupa. 

A deliciosa ambientação no Rio de Janeiro dos anos 1950 (capital dos Estados Unidos do Brasil?) é devedora de um universo visual bastante particular onde se misturam revistas em quadrinhos, chanchadas, seriados televisivos e filmes baratos de gênero. 

Trata-se de homenagens bastante carinhosas que se integram ao filme sem o menor traço de auto-indulgência. Há, inclusive, uma frontalidade digna de uma declaração de princípios na forma como estas referências são apresentadas: o detetive interpretado por Nuno Leal Maia passa boa parte de seu tempo lendo gibis ostensivamente diante da câmera; o próprio Hitchcock apresenta o filme como fazia com os episódios de sua famosa série; grandes nomes da chanchada – Colé Santana, Wilson Grey e Zezé Macedo, entre outros - desfilam diante da câmera sem grandes funções narrativas. 

As Sete Vampiras é de uma honestidade apaixonante em mostrar o que interessa e, mais importante, da forma que interessa. 


O cinema de horror brasileiro em tempos de Ivampirismo aqui:


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Medo de quê?

Os imemoriais tempos de sangue na tela, tripas expostas e calafrios no fim da coluna. Medo, fonte viva dos filmes de terror, alguns dizem que é um dos sentimentos que mais faz as pessoas se sentirem vivas e livres.

Mas o que é o horror? O que é esse sentimento letal, desesperador, que seduz e atrai a humanidade há séculos?

"Aqui está a verdade final sobre os filmes de horror. Eles não amam a morte, como alguns têm proposto, eles amam a vida. Eles não celebram a deformidade, mas, habitando a deformidade, cantam a saúde e a energia. Eles são os purificadores da mente, tirando não rancor, mas ansiedade" (Stephen King, Dança Macabra)

Pelas águas sangrentas e sustos fenomenais, o BG anuncia sua festa macabra com o setlist do DJ Zeh Alsanne, a intervenção dos Cretinos Iluminados, os arrepios dos melhores curtas de terror e o show de lançamento do vinil "Mono Maçã", de Lê Almeida, com suas guitarras distorcidas.

Ah, e na vibe de que a arte é pra ser espalhada, você pode baixar o cd aqui.

Tá tenso? Como diz Cemitério Maldito: às vezes, a morte é o melhor.




terça-feira, 1 de novembro de 2011

1º Filme do Ciclo Terror Trash


Sobrenatural. Humor. Excesso. Superstição. Crendice popular. 

"O que é a vida? É o princípio da morte. O que é a morte? É o fim da vida. O que é a existência? É a continuidade do sangue. O que é o sangue? É a razão da existência.

O marco zero do início: à meia noite. levarei. sua alma.

Prêmio L'Ecran Fantastique pela originalidade
Prêmio Tiers Monde da imprensa na Convention du Cinema Fantastique
Prêmio Especial no Festival de Cine Fantástico y de Terror de Sitges


sábado, 29 de outubro de 2011

À meia-noite levarei sua alma

Em meados de 1963, uma história curiosa corria pelo meio cinematográfico de São Paulo: um maluco, acompanhado de um séquito de seguidores que o chamavam de mestre, estava realizando um filme sem qualquer verba em um galpão na capital paulista. O maluco era dono de um obscuro “curso de cinema” e tinha diversas passagens pela imprensa sensacionalista como salafrário. 

O maluco em questão era José Mojica Marins – e era quase verdade que naquele momento, realizava um filme sem verba alguma, patrocinado apenas pela idolatria de seus “alunos”. Antes daquele filme, Mojica vinha de duas experiências fracassadas como diretor e chegara a passar fome por conta do seu sonho de filmar. Para a concretização daquela nova aventura, contava com o dinheiro arrecadado entre a turma e... a venda dos móveis e utensílios domésticos da sua casa, além de grande parte das próprias roupas! Mojica não tinha mais casa, sua mulher esperava um filho e ele achou por bem “morar” no estúdio, dentro do caixão que servia de cenário. 

Não estamos obviamente falando de um homem comum, estamos falando de um gênio. Sem nunca ter entrado sequer em um curso básico de cinema, aquele paulistano da Casa Verde se metia a dirigir filmes e dar aulas do assunto. Seu pai tinha um cinema, verdade, mas donos de cinema nunca geraram filhos diretores. Quando aos vinte e oito anos de idade sua existência parecia condenada ao desespero – por conta dos retumbantes fracassos naquela que era a única coisa que acreditava fazer –, o jovem Mojica teve um sonho. E o sonho salvou sua vida profissional para sempre.

No sonho Mojica viu Zé. Encrespou-se para o gabinete do “curso” e solicitou que uma das alunas, que fazia as vezes de secretária, transcrevesse suas idéias para o papel. Do medo e do incômodo que sentiu por Zé, criou um argumento. Convocou os alunos e decidiu: “Vamos filmar”. Foi dessa forma que nasceu Zé do Caixão, e em 1964 chegou aos cinemas de São Paulo um filme com o gaiato título de “À meia-noite levarei sua alma”.

Zé do Caixão, não era nem é uma assombração, como muitos ainda pensam. Zé é apenas um cético, um zombeteiro, que acredita na força humana contra a punição divina. É um artífice de Nieztche, por um homem que nunca leu um livro. Talvez Mojica tenha temido o pesadelo com Zé do Caixão, porque Zé do Caixão afinal era ele próprio – e falava de seus medos, angústias e desejos mais contidos. 

Em “À meia-noite...” Zé aterroriza uma cidade apenas com sua força. Parodiando o escritor Lúcio Cardoso, Zé do Caixão “não é um homem, é uma atmosfera”. Por onde passa espalha desgraça, covardia, pusilanimidade. Contrariando a ordem da Igreja, come carne de carneiro na sexta-feira santa. Toma dinheiro dos matutos da aldeia e quando um corajoso nega pagamento, decepa-lhe os dedos.

Além de todas estas atividades, Zé também é agente funerário. E, nas horas vagas, sonha em ter um filho, “que perpetue seu sangue”. A esposa não engravida – na vida real a esposa de Mojica também tinha dificuldades de engravidar – e Zé do Caixão dá seu vaticínio: “A mulher que não pode ter filhos não precisa de cuidados” – em seguida, ele a mata.

Zé cobiça a bela Teresinha (Magda Mei, a secretária do curso de Mojica), mas tem o amigo Antônio (Nivaldo de Lima) como rival. Para um homem que tudo pode e que tudo quer, aquilo não é problema. Zé mata Antônio, em cena brilhante. Quando Zé prega seu niilismo e ceticismo, Antônio rebate afirmando-se um conformado com orgulho, um temente a Deus. Zé então apanha uma barra de ferro, assassina Antônio e pergunta: “E agora, de que adiantou sua crença Nele?”.

Depois Zé vai atrás de Teresinha, com quem tem relações sexuais forçadas, enquanto a moça esmaga um passarinho nas mãos. Teresinha se suicida e Zé tem que continuar a matar, para sustentar sua liberdade. As vítimas vão se sucedendo e a descrença e o deboche de Zé aumentam. Tudo culmina em uma volta das almas penadas das vítimas e só nesse ponto é que o filme adquire um tom sobrenatural, de terror inexplicável. Antes Zé era só lógica, era a razão contra a superstição e a crença.

Mojica terminaria o caso melhor se Zé vencesse, triunfasse contra a cidade e provasse que nada existe, que, como ele diz após pisar em um despacho, “estão todos mortos, e mortos não podem fazer mal a ninguém”. Mas a proposta era uma trama além da razão, portanto Zé encontra, no fim da linha, o castigo. E o castigo contraria sua implacável lógica e o joga no difuso, no imponderável, ou como Mojica prefere dizer, nas trevas.

“À meia-noite...” é um filme para poucos. Em 1964, quando foi lançado, Mojica não foi tomado como cineasta, mas como um homem seriamente doente. O sucesso absoluto de público não se converteu sequer em lucro, pois havia vendido seus direitos na estréia por uma ninharia, e só arcou com o ônus das críticas pesadíssimas.

Em resposta, o realizador deu ao povo mais e melhor, em outras pérolas como “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” e “Ritual dos Sádicos”. É certo afirmarmos, portanto, que Mojica nunca fez cinema: o cinema é que morava dentro dele e Mojica apenas precisou colocá-lo, espontaneamente, para fora.

(A gente copia pra compartilhar: tirado daqui)


SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 01 de novembro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

terça-feira, 25 de outubro de 2011

4º Filme do Ciclo Buraco do Getúlio Convida

Hoje rola o último filme do Ciclo Buraco do Getúlio Convida, 5x FAVELA, AGORA POR NÓS MESMOS. Feito por jovens cineastas, moradores de favelas do Rio de Janeiro, treinados e capacitados a partir de oficinas profissionalizantes de audiovisual, ministradas por grandes nomes do cinema brasileiro, o filme é dividido em 5 ficções, com cerca de 20 minutos cada, sobre diferentes aspectos da vida em suas comunidades.

Em seguida, bate papo com membros da equipe do filme. Curioso pra saber como é o processo de fazer filme? BG de terça em você.

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 25 de outubro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

domingo, 23 de outubro de 2011

Mostra Cine Rock

Quem abre as portas de casa pra qualquer um? Nosso lar é lugar pra compartilhar porque quem mora precisa de afeto e carinho, quem mora quer que os amigos entrem e saem se sentindo em casa, com aquele gostinho de fica aqui um pouco mais...

O BG queria ter uma casa de mil portas para que pudesse receber todo mundo que a gente considera especial. E pra sacudir o tapete de casa e dar boas vindas pra quem também adora escancarar porta de casa a gente tá de braço com a Mostra Independente Cine Rock!

Acontecendo desde 2009 na Baixada Fluminense, a 4ª edição esse ano vai estar no Sylvio Monteiro, dia 11 de dezembro. Em cada edição rolam atrações musicais, projeção de curtas e uma exposição de artes visuais.


Realizado pelo coletivo de criatividade Pública Alternativa, o Cine Rock está com inscrições abertas até dia 05 de novembro nessas mesmas categorias e o BG se transformou em posto de coleta pra galera que queira participar na categoria audiovisual, já que a entrega dos filmes (parte do processo de inscrição) pode ser online, por correio ou via posto de coleta. Ou seja, se você se inscreveu, mas não tem grana para mandar pelo correio ou seu filme não está online, é só levar a cópia no dia que realizamos sessões!

O festival tem uma página no Facebook e se você quiser saber mais, os regulamentos e as fichas para inscrição, é só clicar aqui.

Você, ilustrador, artista plástico, fotógrafo, escultor, performer, pintor, cineasta, músico, dono de canal do youtube, manda sua obra e grita no portão de casa com a gente "Eu quero é rock, beibe!"

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

5 vezes Favela - Agora por nós mesmos

Todos os dias, às 18:30h, na rua das laranjeiras, para ser mais exata bem no prédio da Rio Filme, tenho um encontro marcado com a nostalgia e o projeto ao mesmo tempo. O que acontece comigo nesse encontro? 

Acontece uma mágica. O momento é mágico. Não poderia ocorrer outra coisa, afinal “os caras” que estavam em meus livros estão agora falando comigo, eles falam de futebol também, eles têm corpos enrugados pelo tempo, eles são seres humanos de verdade. Quando eles me fazem uma pergunta, é difícil responder, gosto de ouvi-los o tempo todo, gosto de observar seus gestos de gênios e, sempre que posso, gosto de abraçar-lhes apertado. Mas voltando à nostalgia e ao projeto... Um dia, quando percebi em minha vida que haviam outras pessoas por trás da tela da televisão e o quão poderosas essas pessoas podem ser , tracei um objetivo em meu caminho que talvez pudesse ajudar o mundo ao meu redor, a comunidade de terra em que tomava banhos de chuva e chegava em casa com lama da cabeça aos pés (haja ouvidos para a mãe, coitada!). 

Enfim, meu objetivo era ter a capacidade de falar de igual para igual com “os grandes”, as pessoas que comandam outras pessoas. Entretanto, falar somente a língua deles não me basta mais, agora quero ter a capacidade de fazer com que essas pessoas compreendam a minha língua também, e é disso que trata o filme “5 Vezes Favela – Agora, por nós mesmos”. 

Para que essa compreensão aconteça, ao meu ver, é extremamente necessário que essas pessoas saibam que ao lado da Comunidade Agrícola de Higienópolis (C.A. H.), quando chove, o rio Faria Timbó transborda, e um vizinho corajoso resgata um Jet ski, o liga, coloca sua sunga de praia, e tira uma onda andando de Jet Ski na Av. dos Democráticos; seria bom saberem também que a linha amarela quando construída e não inaugurada, era habitada por nós, crianças ainda, com nossos patins, bicicletas e pipas; aquilo era o Paraíso, meus joelhos contam essa história até melhor do que eu. É bom que todos, além disso, saibam que no tráfico há amigos de infância, amigos que não nasceram delinqüentes e muito menos morreram assim, tiveram um fim que já fora traçado por outras pessoas, aquelas que brincam de ser Deus entre uma taça de hipocrisia e uma pata de Lagosta. 

É, infelizmente discursos comandam vidas. Entre essas coisas todas tem um caso que me intriga muito. Vou pegar o exemplo da minha tia que me criou desde os nove anos de idade e não terminou o 2º grau. O que acontece é que ela assiste a todas as novelas e aos jornais e percebe a diferença entre a câmera HD e a Betacam. Ela desconfia das notícias do Jornal, fala que as coisas não são como mostram pra gente. Esses eventos que citei acima não estão nas colunas sociais, mas é nelas que penso todos os dias durante a preparação para o Filme, a cada cena que me enxergo no roteiro, e por isso o meu encontro nostálgico com o meu projeto de futuro é mágico, estou me tornando menos ignorante, pois estou aprendendo a falar “nós vamos” além do “nós vai”, falar da Favela e dos E.U.A. Saber um pouquinho de tudo é melhor do que falar tudo sobre o nada. 

Agora é por nós mesmos.



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Vento Forte do Levante - Solano Trindade


“Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piuiiii
Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome.
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome 
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome."

A arte poética de Solano Trindade.



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

3º Filme do Ciclo Buraco do Getúlio Convida

Do latim, a palavra Solano significa “O Vento Forte do Levante”, ou como explorou a escola de samba Vai-Vai no carnaval de 1979 “O Vento Forte da África”, ou até mesmo como define Newton Menezes “Vento Forte da África que se sente às vezes na Espanha”. Dessa miríade de traduções o que mais importa é saber que todas correspondem a um único personagem, “forte” na coerência de sua trajetória e como o “vento” volátil na versatilidade de sua arte, eis assim Solano Trindade, homem negro nascido vinte anos depois do fim oficial da escravidão e que não se curvou diante da opressão de cor, de classe e de cultura.

A antropofagia do Vento Forte do Levante

Caminhos e descaminhos de um dos maiores poetas brasileiros: O Vento Forte do Levante - Solano Trindade. BATE PAPO logo em seguida com o diretor:

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 18 de outubro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

domingo, 9 de outubro de 2011

Cartão Postal


Nos bastidores do Cartão Postal
Lançamento nacional da distribuidora de filmes DF5, do Fora do Eixo, o filme Cartão Postal é uma realização do projeto Cinemaneiro, que ministra oficinas e faz exibições de cinema em 18 favelas do Rio de Janeiro. Na entrevista a seguir, diretores do filme e coordenadores do Cinemaneiro contam um pouco sobre a execução do longa, ou melhor, dos vários curtas que resultam no longa.
1. Quando e como foi concebido o filme Cartão Postal?
A parte principal gravamos em meados de 2007, o prólogo em dezembro de 2005 e o curta do final em 2010. Durante alguns anos, o Núcleo de Produção Cinemaneiro se dedicou ao processo de experimentação audiovisual dos participantes, sempre no formato de curta duração. Com a oportunidade de um orçamento (R$ 40.000,00) o longa Cartão Postal foi pensado como uma forma de colocarmos em prática tudo que vínhamos experimentando em pedaços, nos curtas anteriores.
2. Como as histórias foram desenvolvidas? Houve roteiro, escolha de tema ou simplesmente os jovens saíram gravando o que queriam?
Seguimos os conceitos básicos de organização de uma produção, com os departamentos bem definidos, mas como somos parceiros antes de sermos profissionais, a colaboração foi a tônica do processo. Existia uma escaleta da parte principal e os curtas tiveram seus roteiros mais definidos. O encaixe dos curtas ao corpo principal aconteceu em paralelo à montagem/edição do filme, a partir de algumas necessidades encontradas e de algum planejamento prévio, dentro do espírito temporal e atemporal (sim, os dois ao mesmo tempo) que carrega o filme.
3. Como surgiu a proposta de transformar esses pequenos filmes em um longa?
A era da multiplataforma nos instiga a desvendar. Disponibilizar em partes, entender o espectador de forma diferente e não passivo e buscar interatividade foram algumas das linhas de raciocínio que nos levaram a este formato aberto.
4. Qual a intenção na escolha do nome Cartão Postal?
O Rio, dizem, é a porta de entrada do Brasil e um cartão postal dos mais conhecidos mundialmente. Mas não é só de belezas que o Rio é feito. Muito pelo contrário. Contrapor o significado do “cartãozinho” que os turistas levam como lembrança à dura realidade é a intenção. Fazer pensar como estes dois Rios são um e são dois.

5. Como funciona o projeto Cinemaneiro? Conte um pouco dessa história até chegar na concepção do filme.
O Cinemaneiro é um projeto que nasceu como difusão de curtas brasileiros, que tinha oficina de realização cinematográfica em digital como modo de mobilizar os jovens. Rapidamente, já em 2003, dobramos o tempo de curso, entendendo que os participantes queriam mais que serem espectadores.

Mais um ano se passa e elaboramos o Núcleo de Produção Cinemaneiro, para onde os participantes das oficinas introdutórias corriam, com objetivo de experimentarem mais, se especializarem nas suas áreas de interesse e encontrassem outros integrantes deste que já se constituía como um coletivo e pudessem construir seus projetos.

O Cineclube Beco do rato é um destes projetos (que vai para o seu sexto ano de funcionamento semanal) e a própria Cidadela é a ONG fundada a partir das necessidades e anseios desta rapaziada introduzida no audiovisual pelas oficinas Cinemaneiro, já misturados aos professores, coordenadores, colaboradores das oficinas.

A escaleta da parte principal do Cartão foi concebida a partir de conversas entre freqüentadores do NUPROCINE e, na oportunidade do investimento da UNIMED no filme, optou-se por um não roteiro, mas na decupagem da escaleta, já com o filme final sendo idealizado.
6. Quantas pessoas participam do projeto?
Nossa equipe varia de acordo com a edição do projeto de oficinas (já foram 4, 6 ou 8 de uma só vez), mas entre equipe fixa e flutuantes, já passaram pelo projeto aproximadamente 50 pessoas, entre gente de cinema e assistentes sociais, por exemplo.

7. Qual o objetivo da produção e divulgação desse projeto?
Além de ser nosso primeiro longa, é de baixíssimo orçamento e se propõe a ser 100% compartilhado. Mostrar nosso trabalho é um dos objetivos, mostrar o baixo orçamento como um bom modelo de produção e comprovar que compartilhando nos conectamos com muito mais agentes, atores, pessoas, coletivos, redes sociais, espectadores.
8. O cinema é uma ferramenta de transformação social? Por quê?
Sim. Além de vivermos cada vez mais com o audiovisual nas nossas vidas, o ser humano é um ser audiovisual. Pense numa palavra qualquer e o que virá a sua cabeça é o objeto que a palavra representa. Quantas vezes sons nos remetem a uma lembrança? Vivemos o cinema, dentro das nossas mentes, de forma inconsciente, mas sempre presente. O cinema materializa e nos faz perceber isso e de que formas podemos interagir mais e melhor.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

2º Filme do Ciclo Buraco do Getúlio Convida


Em 2016, como será o cartão postal do Rio? Como será a vida nas periferias? Cartão Postal mostra um inquieto e multifacetado Rio de Janeiro, em narrativa não-linear, em uma cidade despercebida pelos olhares dos turistas.
Realizado com baixíssimo orçamento, rodado em  formato digital, o filme dialoga com os novos meios de exibição, em principal a internet e conta o cotidiano de Beiço, do rapaz trabalhador ao rei da favela, pelas lentes do projeto Cinemaneiro, da associação Cidadela.








CARTÃO POSTAL - TRAILER from DF5 - Distribuidora de Filmes Fo on Vimeo.

Mais em http://cartaopostal.tnb.art.br/

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 11 de outubro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

terça-feira, 4 de outubro de 2011

1º Filme do Ciclo Buraco do Getúlio Convida!


O convidado é sempre uma pessoa querida, aquele que gostaríamos de compartilhar experiências, carinho e afetividade. O  BG desse mês quer dividir com você nossa admiração por aqueles que estão perto, respirando cinema tanto quanto nós, a nossa lista amiga. Pra startar, o incrível homem de duas cabeças, Paulo Halm e seu divertidíssimo Histórias de Amor duram apenas 90 minutos.


Paulo Halm, diretor-roteirista (ou roteirista-diretor), por ele mesmo:

"Se tem uma coisa que me irrita é quando alguém me chama de escritor. Ainda mais quando é alguém de cinema. Sou um cineasta, ou se preferirem, um técnico em cinema, especializado em roteiro. Não me considero escritor, pelo menos não quando estou trabalhando para cinema. Me incomoda que diretores de fotografia, editores, técnicos de som, produtores, etc, sejam considerados cineastas e o roteirista seja considerado uma espécie de "invasor", um estranho no ninho, como se seu trabalho não fosse parte fundamental e intrínseca da produção de um filme. Não tenho nada contra escritores, romancistas, poetas, dramaturgos, profissionais e artistas que vivem da palavra escrita, mas não acho que o roteirista, por mais que empregue o texto como matéria prima de seu trabalho, esteja fazendo literatura. Está fazendo cinema. Portanto, é um cineasta. Depois de mais de 20 anos trabalhando em cinema, dividido entre roteiro e direção, é isso o que sou: um cineasta. Ainda que, na maioria das vezes, meus filmes não passem de folhas de papel."




SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 04 de outubro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

100ª Sessão: eu vou!

100. Número Natural. Quantidade de anos de um século. O cem se refere ao fruto dos mártires ou das virgens como diz o Evangelho "E produzirão fruto: cem por um..." Muita gente comemora os cem primeiros dias de um governo, cem anos de nascimento de poetas, cem colunas de revista. As cem melhores bandas, os cem melhores discos.

Comemora-se porque não há interrupção. Faça chuva, faça sol. Com muita gente ou com pouca gente. Com muito suor e muito orgulho. Sem desacreditar. 100 é um número pleno, sensação de completude, de etapa cumprida.

E é por causa da 100ª Sessão que estamos aqui, revendo os 3 filmes que deram o ponta pé inicial de nossas sessões: Ilha das Flores, de Jorge Furtado; Tijolo, de Frederico Cardoso e A Televisão Não Será Revolucionária, de Media Sana, as velas de nosso bolo.

E pra embalar a festa,  um cardápio de intervenções de dar água na boca: 

terça-feira, 27 de setembro de 2011

6º Filme do Ciclo Cinematográfico

Pronto para conhecer o perigo da Dama?

O filme é uma homenagem explícita ao filme The Lady from Shanghai (1947), de Orson Welles e aos filmes noir B hollywoodianos. A cena em que Maitê Proença aparece no chuveiro é citação de Psicose (1960), de Hitchcock.

Último filme do Ciclo Cinematográfico e vencedor de 11 premiações, A Dama do Cine Shanghai é marcada por humor sutil e ferino. A arte de discutir as questões humanas ao destrinchar o legado do cinema, grande fomentador do imaginário coletivo.




domingo, 25 de setembro de 2011

A Dama do Cine Shanghai


Um noir com ares de Boca do Lixo. É assim que se pode definir A Dama do Cine Shangai, um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional dos anos 80.

Intriga, assassinatos e relações amorosas disfuncionais integram a história de um romance que se alimenta do suspense. Em meio a elementos de mistério e narração em off, Guilherme de Almeida Prado aproveita o embalo para reverenciar o cinema e a criação do imaginário cinéfilo através de um jogo muito interessante: Suzana (Maitê Proença) e Lucas (Antonio Fagundes) se conhecem numa sala de cinema. Ela, muito parecida com a mocinha na tela. E ele sem saber que sua vida se transformaria numa trama quase espelhada do filme, aparentemente inofensivo, escolhido sem nenhuma pretensão, apenas com o intuito de passar algumas horas num ambiente refrigerado onde ninguém o incomodasse.

É assim que entramos no turbilhão de encontros e desencontros entre Suzana e Lucas, e mais do que isso, que somos convidados a participar do jogo onde o ator/espectador aos poucos se transforma em personagem principal e a trama nos confunde a ponto de não sabermos mais o que são os delírios do mocinho e o que são as traições da mocinha.

Paulo Villaça, também conhecido como o famigerado Bandido da Luz Vermelha [Rogério Sganzerla, 1968], encarna o vilão ambíguo chamado Desdino, que se contrapõe em tudo ao galã de Antonio Fagundes: desde o porte físico até o requinte das roupas, jóias e acessórios, sendo o mais caro deles a incrível e loura Suzana. Falando em acessórios, uma dica aos espectadores: olho vivo nos relógios dos possíveis vilões...

Aliás, vale pontuar como a direção de arte influência na construção da atmosfera do filme. As roupas de Suzana lembram clássicos do cinema hollywoodiano dos anos 50, assim como os ternos de corte clássico usados por Lucas e Desdino. Se você cair de paraquedas na sessão de A Dama do Cine Shangai pode acabar achando estranha a não vinculação dos personagens com qualquer traço da realidade brasileira dos idos anos 80. Mas depois de algum tempo de filme os mais espertos acabam descobrindo – e aceitando – o convite de Guilherme Almeida Prado para transpor a linha entre ficção e realidade, deixando-se levar pelos mistérios que envolvem o universo desta dama singular.


Por Georgiane Abreu

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 27 de setembro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Louco por Cinema

A arte sempre foi o objeto de reflexão preferido da própria arte - é o teatro questionando o trabalho do ator ou o futuro da dramaturgia; a poesia exaltando a forma poética; o cinema discutindo o fazer cinema. Mais do que um exercício bem humorado de metalinguagem, Louco por Cinema, dirigido pelo cineasta baiano André Luiz Oliveira, é o reflexo das dificuldades para filmar enfrentadas por toda uma geração de cineastas.

O ano é 1994, o cinema nacional tenta despertar após o anúncio prematuro de sua morte, com a extinção da Embrafilmes pelo governo Collor. Nesse contexto um tanto deprimente, Louco por Cinema é extremamente representativo, embora freqüentemente esquecido pela crítica autodenominada especializada, como um dos primeiros suspiros do que muitos hoje chamam de retomada. Marcou também o efêmero retorno do diretor André Luiz Oliveira, cuja curta carreia no cinema, mas muito respeitada, inclui a adaptação livre do texto de José de Alencar, A Lenda de Ubirajara (1975) e o clássico udigrudi, Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico (1969). 

A trama gira em torno das fantasias e loucuras de Lula (interpretação acima da média de Nuno Leal Maia, que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no 27° Festival de Brasília, em 1994), um paciente internado há 20 anos num manicômio judiciário em Brasília. Lula enlouqueceu quando foram interrompidas as filmagens de uma produção underground chamada O Caminho da Serpente. Ele está obcecado em terminar de rodar o filme e para isso acaba sequestrando, com ajuda dos outros internos, uma equipe de direitos humanos. Sua exigência é retomar a produção. Completar esta obra inacabada pode ser a única alternativa para Lula esclarecer o que realmente aconteceu no fatídico dia em que O Caminho da Serpente foi interrompido. 

Assim como o cinema brasileiro da época, os personagens presentes no roteiro escrito pelo próprio André Luiz parecem todos perdidos e frustrados, buscando uma afirmação sempre inalcançável. A redenção para os personagens parece vir da realização cinematográfica, do momento mágico da exibição. É a autobiografia do cinema e do cineasta André Luiz, que sempre encarou o cinema como algo idealizado e de expressão artística, nunca como um ofício. 

Louco por Cinema foi muito aplaudido no Festival de Brasília em 1994, onde se sagrou o grande vencedor. Faturou com mérito os prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Diretor, Melhor Canção (Cláudio Vinícius) e Prêmio da Crítica. O longa-metragem foi remasterizado e lançado em versão digital pela ASA Cinema, em edição caprichada, com comentários em áudio do diretor André Luiz, depoimentos de profissionais como Carlos Reichenbach, trailer, crítica escrita de Arnaldo Jabor, jornal em vídeo do Festival de Brasília de 1994 e ficha técnica completa.

retirado daqui