Ivan Cardoso compartilha com boa parte do Cinema Marginal, movimento no qual começou sua carreira cinematográfica, um gosto irresistível pelo popular. Esta vocação é exercitada sem pudores em todos os seus filmes, desde os curtas-metragens em que estreou como diretor na década de 1970, até seus longas-metragens, em que o horror, a nudez e o humor se misturam em farsas deliciosamente filmadas. O popular muitas vezes é grosseiro e o diretor nunca se esquece disto; ao contrário, deleita-se encenando os mais variados absurdos. Toda sorte de criaturas sobrenaturais – múmias, vampiros, lobisomens – à solta no Brasil, mulheres nuas se ensaboando lascivamente diante da câmera, tramas rocambolescas repletas de situações cômicas: este é o mundo de Ivan Cardoso.
Muito apropriado, então, que As Sete Vampiras, grande sucesso de público lançado em 1986, se inicie com a chegada ao Brasil de uma planta carnívora africana capaz de transmutar em vampiros e que o filme se transforme em uma caçada a um assassino serial – devidamente “vampirizado” -, tendo como pano de fundo uma boate onde, é claro, dançarinas se apresentam com pouca ou nenhuma roupa.
A deliciosa ambientação no Rio de Janeiro dos anos 1950 (capital dos Estados Unidos do Brasil?) é devedora de um universo visual bastante particular onde se misturam revistas em quadrinhos, chanchadas, seriados televisivos e filmes baratos de gênero.
Trata-se de homenagens bastante carinhosas que se integram ao filme sem o menor traço de auto-indulgência. Há, inclusive, uma frontalidade digna de uma declaração de princípios na forma como estas referências são apresentadas: o detetive interpretado por Nuno Leal Maia passa boa parte de seu tempo lendo gibis ostensivamente diante da câmera; o próprio Hitchcock apresenta o filme como fazia com os episódios de sua famosa série; grandes nomes da chanchada – Colé Santana, Wilson Grey e Zezé Macedo, entre outros - desfilam diante da câmera sem grandes funções narrativas.
As Sete Vampiras é de uma honestidade apaixonante em mostrar o que interessa e, mais importante, da forma que interessa.
O cinema de horror brasileiro em tempos de Ivampirismo aqui:
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