"Longe é só um lugar onde a gente nunca vai."
(Alice, de Rafael Gomes)
Porque distribuir é compartilhar.
Para uma abordagem mais rica da obra de Rafael, é preciso falar de(...) Alice. De cara já dá pra dizer outro elemento que passeia por todos os percursos cinematográficos do rapaz: a utilização da narração em off via protagonistas. O que indica um interesse pela escrita, pela dramaturgia, por uma busca tanto imagética quanto
verbal na expressão de valores e sentimentos. Seu maior mérito é a qualidade de ambos elementos em separado.
Seus roteiros são honestos, repletos de textos ricos e líricos (sem nunca soarem piegas), e sabem dar voz aos personagens que retratam. Os escritos de Rafael se adequam ao universo abordado com a sutileza e o cuidado de alguém que parece já ter estado lá, pertencido àquele universo de dúvidas e descobertas. Sua preocupação formal na retratação do tema também é apropriada, seus planos são expressivos e bem recortados. O problema maior está no encaixe das pecinhas.
A voz do roteiro, essa narração quase onipresente, desloca os filmes de qualquer preocupação acerca de uma construção sólida do enredo através de cenas significativas em termos de apresentações de motivações ou conflitos. Estes são apresentados pelo off e apenas reverberados na imagem. Mesmo a construção dos personagens, através de interações com as outras personagens e com o meio onde se encontram é posta em segundo plano diante da opressão dessa construção por meio de narrações. Isso cria um estado de desencontro entre a voz e a imagem, um espaço vago na mise-en-scène que dá aos filmes um ar etéreo, pouco palpável, relegando a imagem a uma construção simplória de signos espalhados e dando à montagem uma liberdade quase videoclíptica.
Esse tom impera (...) no filme, mas ainda assim, aquela juventude buscando autonomia no espaço, nas relações íntimas, buscando se encontrar mesmo quando o acaso não permite, quando o ambiente se impõe enquanto barreira, buscando respostas em meio a tanta dúvida e incerteza ainda me atrai. Essa esperança quase desencantada do jovem perdido na solidão das angústias individuais diz respeito à nossa juventude, a mim, a essa geração de pais divorciados, sem utopias nem grandes sonhos coletivos.
Nesse sentido, a atmosfera volúvel das diversas fotografias que compõem o todo, encontra alguma razão de ser, alguma solidez, mas, como o próprio Rafael anuncia no título de um outro curta seu curta, pode derreter.
(fisgado daqui)
Alice por rafael_gomes
Em desencontro na cidade, Alice e Alex traçam uma geografia emocional de amor e perda.
Gênero: Drama
Gênero: Drama
Diretor: Rafael Gomes
Ano:2005
Duração:15'
País: Brasil
Amei deveras.
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