domingo, 25 de setembro de 2011

A Dama do Cine Shanghai


Um noir com ares de Boca do Lixo. É assim que se pode definir A Dama do Cine Shangai, um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema nacional dos anos 80.

Intriga, assassinatos e relações amorosas disfuncionais integram a história de um romance que se alimenta do suspense. Em meio a elementos de mistério e narração em off, Guilherme de Almeida Prado aproveita o embalo para reverenciar o cinema e a criação do imaginário cinéfilo através de um jogo muito interessante: Suzana (Maitê Proença) e Lucas (Antonio Fagundes) se conhecem numa sala de cinema. Ela, muito parecida com a mocinha na tela. E ele sem saber que sua vida se transformaria numa trama quase espelhada do filme, aparentemente inofensivo, escolhido sem nenhuma pretensão, apenas com o intuito de passar algumas horas num ambiente refrigerado onde ninguém o incomodasse.

É assim que entramos no turbilhão de encontros e desencontros entre Suzana e Lucas, e mais do que isso, que somos convidados a participar do jogo onde o ator/espectador aos poucos se transforma em personagem principal e a trama nos confunde a ponto de não sabermos mais o que são os delírios do mocinho e o que são as traições da mocinha.

Paulo Villaça, também conhecido como o famigerado Bandido da Luz Vermelha [Rogério Sganzerla, 1968], encarna o vilão ambíguo chamado Desdino, que se contrapõe em tudo ao galã de Antonio Fagundes: desde o porte físico até o requinte das roupas, jóias e acessórios, sendo o mais caro deles a incrível e loura Suzana. Falando em acessórios, uma dica aos espectadores: olho vivo nos relógios dos possíveis vilões...

Aliás, vale pontuar como a direção de arte influência na construção da atmosfera do filme. As roupas de Suzana lembram clássicos do cinema hollywoodiano dos anos 50, assim como os ternos de corte clássico usados por Lucas e Desdino. Se você cair de paraquedas na sessão de A Dama do Cine Shangai pode acabar achando estranha a não vinculação dos personagens com qualquer traço da realidade brasileira dos idos anos 80. Mas depois de algum tempo de filme os mais espertos acabam descobrindo – e aceitando – o convite de Guilherme Almeida Prado para transpor a linha entre ficção e realidade, deixando-se levar pelos mistérios que envolvem o universo desta dama singular.


Por Georgiane Abreu

SERVIÇO 
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 27 de setembro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI

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