Um noir com ares de Boca do Lixo.
É assim que se pode definir A Dama do Cine Shangai, um dos maiores sucessos de
bilheteria do cinema nacional dos anos 80.
Intriga, assassinatos e relações
amorosas disfuncionais integram a história de um romance que se alimenta do
suspense. Em meio a elementos de mistério e narração em off, Guilherme de Almeida
Prado aproveita o embalo para reverenciar o cinema e a criação do imaginário
cinéfilo através de um jogo muito interessante: Suzana (Maitê Proença) e Lucas
(Antonio Fagundes) se conhecem numa sala de cinema. Ela, muito parecida com a
mocinha na tela. E ele sem saber que sua vida se transformaria numa trama quase
espelhada do filme, aparentemente inofensivo, escolhido sem nenhuma pretensão,
apenas com o intuito de passar algumas horas num ambiente refrigerado onde
ninguém o incomodasse.
É assim que entramos no turbilhão
de encontros e desencontros entre Suzana e Lucas, e mais do que isso, que somos
convidados a participar do jogo onde o ator/espectador aos poucos se transforma
em personagem principal e a trama nos confunde a ponto de não sabermos mais o
que são os delírios do mocinho e o que são as traições da mocinha.
Paulo Villaça, também conhecido
como o famigerado Bandido da Luz Vermelha [Rogério Sganzerla, 1968], encarna o
vilão ambíguo chamado Desdino, que se contrapõe em tudo ao galã de Antonio
Fagundes: desde o porte físico até o requinte das roupas, jóias e acessórios,
sendo o mais caro deles a incrível e loura Suzana. Falando em acessórios, uma
dica aos espectadores: olho vivo nos relógios dos possíveis vilões...
Aliás, vale pontuar como a
direção de arte influência na construção da atmosfera do filme. As roupas de
Suzana lembram clássicos do cinema hollywoodiano dos anos 50, assim como os
ternos de corte clássico usados por Lucas e Desdino. Se você cair de paraquedas
na sessão de A Dama do Cine Shangai pode acabar achando estranha a não
vinculação dos personagens com qualquer traço da realidade brasileira dos idos
anos 80. Mas depois de algum tempo de filme os mais espertos acabam descobrindo
– e aceitando – o convite de Guilherme Almeida Prado para transpor a linha
entre ficção e realidade, deixando-se levar pelos mistérios que envolvem o
universo desta dama singular.
Por Georgiane Abreu
Por Georgiane Abreu
SERVIÇO
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 27 de setembro, às 19h
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - NI
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