A arte sempre foi o objeto de reflexão preferido da própria arte - é o teatro questionando o trabalho do ator ou o futuro da dramaturgia; a poesia exaltando a forma poética; o cinema discutindo o fazer cinema.
Mais do que um exercício bem humorado de metalinguagem, Louco por Cinema, dirigido pelo cineasta baiano André Luiz Oliveira, é o reflexo das dificuldades para filmar enfrentadas por toda uma geração de cineastas.
O ano é 1994, o cinema nacional tenta despertar após o anúncio prematuro de sua morte, com a extinção da Embrafilmes pelo governo Collor. Nesse contexto um tanto deprimente, Louco por Cinema é extremamente representativo, embora freqüentemente esquecido pela crítica autodenominada especializada, como um dos primeiros suspiros do que muitos hoje chamam de retomada. Marcou também o efêmero retorno do diretor André Luiz Oliveira, cuja curta carreia no cinema, mas muito respeitada, inclui a adaptação livre do texto de José de Alencar, A Lenda de Ubirajara (1975) e o clássico udigrudi, Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico (1969).
A trama gira em torno das fantasias e loucuras de Lula (interpretação acima da média de Nuno Leal Maia, que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no 27° Festival de Brasília, em 1994), um paciente internado há 20 anos num manicômio judiciário em Brasília. Lula enlouqueceu quando foram interrompidas as filmagens de uma produção underground chamada O Caminho da Serpente. Ele está obcecado em terminar de rodar o filme e para isso acaba sequestrando, com ajuda dos outros internos, uma equipe de direitos humanos. Sua exigência é retomar a produção. Completar esta obra inacabada pode ser a única alternativa para Lula esclarecer o que realmente aconteceu no fatídico dia em que O Caminho da Serpente foi interrompido.
Assim como o cinema brasileiro da época, os personagens presentes no roteiro escrito pelo próprio André Luiz parecem todos perdidos e frustrados, buscando uma afirmação sempre inalcançável. A redenção para os personagens parece vir da realização cinematográfica, do momento mágico da exibição. É a autobiografia do cinema e do cineasta André Luiz, que sempre encarou o cinema como algo idealizado e de expressão artística, nunca como um ofício.
Louco por Cinema foi muito aplaudido no Festival de Brasília em 1994, onde se sagrou o grande vencedor. Faturou com mérito os prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Diretor, Melhor Canção (Cláudio Vinícius) e Prêmio da Crítica. O longa-metragem foi remasterizado e lançado em versão digital pela ASA Cinema, em edição caprichada, com comentários em áudio do diretor André Luiz, depoimentos de profissionais como Carlos Reichenbach, trailer, crítica escrita de Arnaldo Jabor, jornal em vídeo do Festival de Brasília de 1994 e ficha técnica completa.
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