Um dos traços mais marcantes do chamado movimento mangue beat, que ganhou popularidade na virada do século em Pernambuco, foi uma inversão na forma como os burgueses do Recife viam a si próprios. De repente, a vergonha que sentiam por viver num lugar inóspito, do ponto de vista cultural, deu lugar a um orgulho palpável por estar geograficamente próximos de um grupo de pessoas celebradas nacionalmente como renovadores de uma tradição cultural. Nesse sentido, “Árido Movie” (Brasil, 2006) é um legítimo representante da cultura mangue no cinema. O filme, vencedor do Cine PE em 2006, celebra alegremente os ícones do Pernambuco jovem dessa turma.
Em resumo, “Árido Movie” é um catálogo de imagens do que significa ser, em 2005, um pernambucano de classe média, numa faixa etária entre 20 e 40 anos, vivendo num padrão de classe média e com alguma sensibilidade artística, em uma cidade do Grande Recife: praia de Boa Viagem, bares como Casa de Banhos e Biruta, o jornalista Xico Sá, cerveja, maconha, falta d’água, calor, Marco Zero, o músico Lirinha, mais maconha, Vale do Catimbau, um serão nostálgico e afetivo, o cantor Ortinho, e mais maconha. Essa reunião de ícones traduz o ambiente em que vive a galera mangue, e o filme emula tudo isso muito bem.
(...) A trama em si é bastante interessante, aglutinando novos e velhos elementos característicos da cultura pernambucana. O protagonista é um expatriado. Jonas (Guilherme Weber) trabalha como homem do tempo numa grande emissora de TV. Quando o pai (Paulo César Pereio) que ele não vê desde criança morre, assassinado na fictícia cidade sertaneja de Rocha, ele é obrigado a voltar a Pernambuco para enterrar o parente, metendo-se inadvertidamente numa tentativa de vingança bem típica do Sertão, arquitetada por tios, primos e irmãos (Matheus Nachtergaele, Aramis Trindade, o cantor Ortinho) que fazem o tipo “brucutus sertanejos desconfortáveis com o menino mimado da cidade grande”.
(...) Outro ponto curioso é a fotografia de Murilo Salles, um profissional que não atuava na função há 20 anos. As composições cuidadosas (excelente a tomada aérea que emoldura os créditos, na abertura), os longos planos com a câmera em movimento (alguns soando como exibicionismo gratuito, como o plano circular entre as pedras do Cachorro e do Elefante) e enquadramentos caprichados dão a impressão de uma obra sofisticada, mas por outro lado o tratamento da luz pode ser, para alguns, problemático. As cenas interiores têm iluminação quase expressionista, cheia de sombras e pontos escuros, enquanto os espaços externos são mostrados em frios tons azulados, sem a luz ofuscante que caracteriza a região. É um sertão de sonho, irreal.
(retirado daqui)
SERVIÇO
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 23 de outubro, terça, às 20h
Casa de Cultura de Nova Iguaçu
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
Próximo à Estação de Trem de Nova Iguaçu
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 23 de outubro, terça, às 20h
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