quinta-feira, 18 de outubro de 2012

4º Filme do Ciclo Buraco Junkie



Um dos traços mais marcantes do chamado movimento mangue beat, que ganhou popularidade na virada do século em Pernambuco, foi uma inversão na forma como os burgueses do Recife viam a si próprios. De repente, a vergonha que sentiam por viver num lugar inóspito, do ponto de vista cultural, deu lugar a um orgulho palpável por estar geograficamente próximos de um grupo de pessoas celebradas nacionalmente como renovadores de uma tradição cultural. Nesse sentido, “Árido Movie” (Brasil, 2006) é um legítimo representante da cultura mangue no cinema. O filme, vencedor do Cine PE em 2006, celebra alegremente os ícones do Pernambuco jovem dessa turma.
Em resumo, “Árido Movie” é um catálogo de imagens do que significa ser, em 2005, um pernambucano de classe média, numa faixa etária entre 20 e 40 anos, vivendo num padrão de classe média e com alguma sensibilidade artística, em uma cidade do Grande Recife: praia de Boa Viagem, bares como Casa de Banhos e Biruta, o jornalista Xico Sá, cerveja, maconha, falta d’água, calor, Marco Zero, o músico Lirinha, mais maconha, Vale do Catimbau, um serão nostálgico e afetivo, o cantor Ortinho, e mais maconha. Essa reunião de ícones traduz o ambiente em que vive a galera mangue, e o filme emula tudo isso muito bem. 
(...) A trama em si é bastante interessante, aglutinando novos e velhos elementos característicos da cultura pernambucana. O protagonista é um expatriado. Jonas (Guilherme Weber) trabalha como homem do tempo numa grande emissora de TV. Quando o pai (Paulo César Pereio) que ele não vê desde criança morre, assassinado na fictícia cidade sertaneja de Rocha, ele é obrigado a voltar a Pernambuco para enterrar o parente, metendo-se inadvertidamente numa tentativa de vingança bem típica do Sertão, arquitetada por tios, primos e irmãos (Matheus Nachtergaele, Aramis Trindade, o cantor Ortinho) que fazem o tipo “brucutus sertanejos desconfortáveis com o menino mimado da cidade grande”.
(...) Outro ponto curioso é a fotografia de Murilo Salles, um profissional que não atuava na função há 20 anos. As composições cuidadosas (excelente a tomada aérea que emoldura os créditos, na abertura), os longos planos com a câmera em movimento (alguns soando como exibicionismo gratuito, como o plano circular entre as pedras do Cachorro e do Elefante) e enquadramentos caprichados dão a impressão de uma obra sofisticada, mas por outro lado o tratamento da luz pode ser, para alguns, problemático. As cenas interiores têm iluminação quase expressionista, cheia de sombras e pontos escuros, enquanto os espaços externos são mostrados em frios tons azulados, sem a luz ofuscante que caracteriza a região. É um sertão de sonho, irreal. 
(retirado daqui)
SERVIÇO
    Cineclube Buraco do Getúlio
    Dia 23 de outubro, terça, às 20h
    Casa de Cultura de Nova Iguaçu
    Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
    Próximo à Estação de Trem de Nova Iguaçu

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