Nos bastidores do Cartão Postal
Lançamento nacional da distribuidora de filmes DF5, do Fora do Eixo, o filme Cartão Postal é uma realização do projeto Cinemaneiro, que ministra oficinas e faz exibições de cinema em 18 favelas do Rio de Janeiro. Na entrevista a seguir, diretores do filme e coordenadores do Cinemaneiro contam um pouco sobre a execução do longa, ou melhor, dos vários curtas que resultam no longa.
1. Quando e como foi concebido o filme Cartão Postal?
A parte principal gravamos em meados de 2007, o prólogo em dezembro de 2005 e o curta do final em 2010. Durante alguns anos, o Núcleo de Produção Cinemaneiro se dedicou ao processo de experimentação audiovisual dos participantes, sempre no formato de curta duração. Com a oportunidade de um orçamento (R$ 40.000,00) o longa Cartão Postal foi pensado como uma forma de colocarmos em prática tudo que vínhamos experimentando em pedaços, nos curtas anteriores.
2. Como as histórias foram desenvolvidas? Houve roteiro, escolha de tema ou simplesmente os jovens saíram gravando o que queriam?
Seguimos os conceitos básicos de organização de uma produção, com os departamentos bem definidos, mas como somos parceiros antes de sermos profissionais, a colaboração foi a tônica do processo. Existia uma escaleta da parte principal e os curtas tiveram seus roteiros mais definidos. O encaixe dos curtas ao corpo principal aconteceu em paralelo à montagem/edição do filme, a partir de algumas necessidades encontradas e de algum planejamento prévio, dentro do espírito temporal e atemporal (sim, os dois ao mesmo tempo) que carrega o filme.
3. Como surgiu a proposta de transformar esses pequenos filmes em um longa?
A era da multiplataforma nos instiga a desvendar. Disponibilizar em partes, entender o espectador de forma diferente e não passivo e buscar interatividade foram algumas das linhas de raciocínio que nos levaram a este formato aberto.
4. Qual a intenção na escolha do nome Cartão Postal?
O Rio, dizem, é a porta de entrada do Brasil e um cartão postal dos mais conhecidos mundialmente. Mas não é só de belezas que o Rio é feito. Muito pelo contrário. Contrapor o significado do “cartãozinho” que os turistas levam como lembrança à dura realidade é a intenção. Fazer pensar como estes dois Rios são um e são dois.
5. Como funciona o projeto Cinemaneiro? Conte um pouco dessa história até chegar na concepção do filme.
O Cinemaneiro é um projeto que nasceu como difusão de curtas brasileiros, que tinha oficina de realização cinematográfica em digital como modo de mobilizar os jovens. Rapidamente, já em 2003, dobramos o tempo de curso, entendendo que os participantes queriam mais que serem espectadores.
Mais um ano se passa e elaboramos o Núcleo de Produção Cinemaneiro, para onde os participantes das oficinas introdutórias corriam, com objetivo de experimentarem mais, se especializarem nas suas áreas de interesse e encontrassem outros integrantes deste que já se constituía como um coletivo e pudessem construir seus projetos.
O Cineclube Beco do rato é um destes projetos (que vai para o seu sexto ano de funcionamento semanal) e a própria Cidadela é a ONG fundada a partir das necessidades e anseios desta rapaziada introduzida no audiovisual pelas oficinas Cinemaneiro, já misturados aos professores, coordenadores, colaboradores das oficinas.
A escaleta da parte principal do Cartão foi concebida a partir de conversas entre freqüentadores do NUPROCINE e, na oportunidade do investimento da UNIMED no filme, optou-se por um não roteiro, mas na decupagem da escaleta, já com o filme final sendo idealizado.
6. Quantas pessoas participam do projeto?
Nossa equipe varia de acordo com a edição do projeto de oficinas (já foram 4, 6 ou 8 de uma só vez), mas entre equipe fixa e flutuantes, já passaram pelo projeto aproximadamente 50 pessoas, entre gente de cinema e assistentes sociais, por exemplo.
7. Qual o objetivo da produção e divulgação desse projeto?
Além de ser nosso primeiro longa, é de baixíssimo orçamento e se propõe a ser 100% compartilhado. Mostrar nosso trabalho é um dos objetivos, mostrar o baixo orçamento como um bom modelo de produção e comprovar que compartilhando nos conectamos com muito mais agentes, atores, pessoas, coletivos, redes sociais, espectadores.
8. O cinema é uma ferramenta de transformação social? Por quê?
Sim. Além de vivermos cada vez mais com o audiovisual nas nossas vidas, o ser humano é um ser audiovisual. Pense numa palavra qualquer e o que virá a sua cabeça é o objeto que a palavra representa. Quantas vezes sons nos remetem a uma lembrança? Vivemos o cinema, dentro das nossas mentes, de forma inconsciente, mas sempre presente. O cinema materializa e nos faz perceber isso e de que formas podemos interagir mais e melhor.
Mais em http://cartaopostal.tnb.art.br/
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