Algo além da simples ideia de transpor um grande sucesso teatral para a tela de cinema havia levado o cineasta carioca Leon Hirszman (1937-1987) à peça escrita em 1955 por Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006).
Eles não usam black-tie permanecera mais de um ano em cartaz em São Paulo, literalmente salvando da falência o Teatro de Arena, em 1958. O espetáculo dirigido por José Renato, idealizador e fundador do Arena, tornara-se também um marco estilístico do teatro brasileiro, graças,sobretudo, à contundência inovadora de seus protagonistas, operários em tensão com a iminência de greve geral. Vinte anos mais tarde, quando Hirszman decide filmar Black-tie, o ABC paulista via-se sacudido por um histórico movimento de organização sindical que resultaria nas fundações do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
O ano era 1979 e a ditadura começava oficialmente a declinar. Ernesto Geisel encerrava seu governo de abertura dando lugar ao último general presidente – aquele cujo feito mais lembrado seria seu próprio pedido para que o esquecessem. No amanhecer de uma década já mais permissiva, porém ainda conturbada, o texto de Guarnieri servia muito bem ao gesto tipicamente neorrealista de estender pontes de melodrama sobre reais trincheiras sociais.
O neorrealismo italiano havia sido uma das principais fontes do Cinema Novo, ainda que Hirszman pessoalmente tivesse em Sergei Eisenstein – e não em Roberto Rosselini – sua maior referência. Tal qual esse último antes de Roma cidade aberta (1945), o cineasta brasileiro também realizara documentários, e é precisamente a partir de um deles (O ABC da greve, concluído somente após sua morte) que o diretor decide adaptar a ficção de Guarnieri.
Por outro lado, a matriz documental e neorrealista do cinema em Black-tie convive com alguns resquícios teatrais,
especialmente por meio do desempenho de alguns figurantes e de certas linhas de texto. Há até um potencial sedutor quasenaïf nesses aspectos, que talvez assim escapem de parecer sintomas de um set cinematográfico malpreparado, subdesenvolvido aos olhos do cinema de mercado.
É, portanto, outro gesto teatral que aparece bem-(re)processado no filme: a voz dos personagens que se manifestam fora de quadro, direto da coxia, dialogando com quem está em cena ou simplesmente ecoando-lhes as notícias. No mesmo sentido, vale observar que os patrões industriais nunca aparecerão na tela, fazendo-se presentes somente através do espião e da polícia, apontados como instrumentos de vigilância de um totalitarismo orwelliano.
A sofisticação do cinema de Leon
Hirszman é evidente quando o diretor não resiste a citar, em dois momentos, à sua maneira, A saída dos operários da Fábrica Lumière (1895). Ainda assim, a força de Eles não usam black-tie surge de uma simples e bem-construída combinação entre realismo social e um conflito universal de gerações entre pai e filho. O filme de Hirszman se nutre não somente da beleza do texto original, mas também de opções tradicionais muito bem-conduzidas, como a do próprio Guarnieri que troca o papel de Tião (na peça) pelo de seu pai operário, formando, ao lado de Fernanda Montenegro, uma das mais tocantes duplas de personagens da história do cinema brasileiro.
(retirado daqui)
SERVIÇO
Cineclube Buraco do Getúlio
Dia 13 de março, terça, às 20h
Casa de Cultura de Nova Iguaçu
Rua Getúlio Vargas, 51 - Centro - Nova Iguaçu
Próximo à Estação de Trem de Nova Iguaçu
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