quarta-feira, 7 de março de 2012

Extra! Extra! Sessão de Sexta!

Rola próxima Sexta Sessão Extra no BG! Em parceria com o Clube de Cinema Fora do Eixo/Compacto.cine, a gente vai ter lançamento integrado do filme BOLLYWOOD DREAMS pra mostrar que o cinema brasileiro tá recheado de aptidões femininas. Checa só as palavras da diretora Beatriz Seigner, estudiosa da cultura indiana há anos.

Nicotina, Cafeína e Cinema - O que a motivou a fazer um filme passado em Bollywood?
Beatriz Seigner - Desde a primeira vez que fui para a Índia, aos 18 anos, já com uma câmera na mão, tinha a vontade de fazer um filme que unisse nosso País aos deles. No entanto, não encontrava um recorte ideal para me acercar das questões que me intrigavam naquele país, com aquela cultura milenar. Ao voltar para o Brasil e ouvir amigos atores perguntando sobre Bollywood, percebi que este poderia ser o recorte, o olhar, que eu estava buscando.


NCC - Você conhece ou já ouviu histórias de pessoas que buscaram o mesmo sonho que as três principais personagens do filme: ir para Bollywood atrás de uma carreira promissora?
BS - Muitas pessoas do leste Europeu trabalham bastante com isso lá. De brasileiras, sei de cinco modelos que no momento estão participando de alguns filmes. Todas elas foram para lá depois que fizemos nosso filme. Estes dias, no debate que fizemos com a Folha (de São Paulo), outras pessoas disseram que foram para a Índia trabalhar com outras coisas, mas acabavam fazendo essas pontas em filmes para ganhar um dinheirinho extra e poder viajar mais pela Ásia. De modo geral, é muito comum os agentes de Bollywood escalarem viajantes na rua para participarem de filmes. O bairro de Cobala, em Mumbai, é bastante conhecido por isso.


NCC - Tratando-se de uma co-produção, como se deu a junção cultural entre Brasil e Índia nesse aspecto produtivo?
BS - Os indianos ficaram com 30% da RLP do filme (Renda Líquida do Produtor), em troca de nos oferecerem infraestrutura e logística, ou seja, hospedagem, transporte, parte da equipe, parte dos equipamentos e acesso às facilidades dos estúdios. Durante toda a pré-produção, pesquisa de locacão, casting, nos demos muito bem. Na hora de filmar, no entanto, já com as atrizes brasileiras lá, percebi que nossas propostas estéticas eram muito diferentes. Eu queria improvisar e fazer jazz com as atrizes, e eles queriam que eu reproduzisse o modelo enlatado da indústria cinematográfica de lá. Daí, liguei para o produtor com o qual tinha o contrato que me dava total liberdade artística e corte final do filme, e ele trocou a equipe por outra bem menor, mas também mais ágil, disposta a filmar nas ruas, mais afinada com o frescor que queríamos no filme. Aí formamos uma família e foi uma delícia, apesar de termos que passar por muito mais escassez de produção.


NCC - Você acha que esse processo de co-produção entre países é uma forma de alavancar produções e viabilizá-las de maneira global?
BS - Antes de tudo, vale observar que o ser humano contemporâneo é um ser deslocado, em migrações, êxodos, com influências globais, e é natural que o cinema acompanhe essas questões de uma "humanidade planetária", de condicionamentos culturais diversos. Em termos financeiros, acho que sim, que é sempre válido expandir nossos horizontes para mercados internacionais, e fazer co-produções. É uma forma de entrar também em outros mercados. A Ásia, neste momento, está fervendo em diversos aspectos, tanto criativos, quanto econômicos. O BRICS (Brasil, Russia, India, China e África do Sul) está mudando o cenário econômico global. Então, por que não nos unir também culturalmente?



NCC - O crítico Luiz Carlos Merten disse que você pode ter realizado o melhor filme do Ocidente sobre a Índia. Como se deu a construção do enredo? Para você, estereótipos são inevitáveis, no momento em que se tem uma visão de fora sobre aquela cultura?
BS - Acho que esse filme (Bollywood Dream) é sobre três personagens tentando se livrar dos condicionamentos culturais brasileiros, que carregam consigo onde quer que vão, mesmo num lugar tão diferente quanto a Índia. É um filme muito mais de perguntas do que de respostas. Ao mesmo tempo que trago o meu olhar, de quem estuda por mais de oito anos a cultura indiana, já morou mais de seis meses lá e já retornou outras quatro vezes, ou seja, um olhar muito próximo ao dos indianos, tento mostrar de maneira não exótica o olhar das atrizes, que estavam passando por aquele País pela primeira vez. Acho que em muitos aspectos meu olhar é mais indiano do que brasileiro.


NCC – Você acha, então, que a arte deve ser subsidiada pelo Estado?
BS - Acredito que a arte deve ser subsidiada pelo Estado, sim, mas que esse subsidio volteao público com ingressos gratuitos. Ou seja, usou R$ 1 milhão de recursos públicos, então R$ 1 milhão em ingressos, de todas as sessões, devem ser distribuídas gratuitamente. Quem vai em médico público não é atendido de graça? Por que cinema público a pessoa tem que pagar a entrada? E por que, em muitos casos, o público tem que pagar R$ 300, R$ 400 reais num show financiado pelo governo? Acredito que todo este dinheiro deveria ir para um fundo, do cinema, do teatro, da música, das artes plásticas, e que fosse todo destinado a editais públicos feitos com júris rotativos de cada área, como na Argentina em que cada cineasta é júri dos editais uma vez a cada quatro anos. Assim, os grupos beneficiados seriam rotativos, a verba seria democratizada e acabaria com o nepotismo esclarecido de apenas sobrinhos-netos de empresários terem acesso a esses recursos, ficando com 10% destes, pois essa é a praxe de mercado: nenhum artista recebe isso, mas os captadores, sim. Acredito também ser urgentíssimo unirmos a arte à educação primária e secundária, exigindo do Ministério da Educação um currículo escolar que contemple a formação de música, teatro, dança, artes plásticas, fotografia, cinema, história da arte, história da arquitetura, nas escolas, e assim termos indivíduos muito mais equilibrados emocionalmente e uma sociedade muito mais saudável. Só assim poderemos falar de consumidores de cultura, livres, de fato.

Retirado de daqui.

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